Hoje
vou poupar as redes sociais à inflação dos dois ‘éfes’ que, de manhã à noite, vão
entupindo os canais oficiais da informação. Deixo, pois, sossegados Fátima e
Futebol - os dois tufões (ambos respeitáveis) que até
sábado varrerão florestas, cidades, telhados e cabeças deste país.
Prefiro
as breves viagens na minha terra, as que nos trazem aragens calmas e saudáveis,
que perpassam à nossa porta e pedem licença para entrar. São os livros, que hoje se ofereceram aos
ilhéus. Na Ponta do Sol, a evocação da Primeira República, pelo investigador Gabriel Pita, à luz do romance
histórico “DA CHOÇA AO SOLAR” do Padre João Vieira Caetano, (1917) apresentado pela Prof. Luisa Paolinelli. No Funchal, a candura do “QUINAS ” da escritora
Violante Saramago Matos, cristalino como um repuxo matinal, porque inspirado e
ilustrado pelas crianças das escolas de Câmara de Lobos e Calheta.
O
terceiro sopro de frescura ecológica veio ter comigo na apresentação das “LEVADAS
DA MADEIRA”, uma obra antológica primorosamente enriquecida pelos textos de
escritores portugueses e estrangeiros sobre a epopeia incrustada no basalto da
ilha, desde o início do povoamento. A iniciativa do Prof. Thierry dos Santos -
com posfácio do Prof. Nélson Viríssimo e fotografia de Francisco Correia – traz
um novo traço, ainda não revelado, e um olhar polissémico sobre as nossas
levadas, nos seus multiformes contornos, desde o ecológico e literário até ao
pragmático e social.
Apreciei
a produção poética de escritores madeirenses sobre o mesmo tema (para mim, uma
surpresa) e verifiquei que o cantar gorgolejante dos nossos canais de rega ultrapassou
a rudeza rural das gentes com quem se entrelaçam as nossas vidas. E associei-me
ao ritmo das águas correntes, reproduzindo aqui a letra da canção que, em
2012, incluí no CD “TERRA DA MINHA
SAUDADE”, a qual, composta há mais de duas décadas, foi coreografada no palco
da Ribeira Seca, como homenagem à luta quotidiana dos camponeses desta localidade. Homenagem,
sobretudo, à água que fertiliza os nossos campos – tão bendita e sagrada como a
água de Fátima – e aos heróicos construtores das levadas “que abraçam toda a
Madeira”.
Água que corres baixinho
E vens do alto da serra
Tu és o nosso caminho
Dás o pão à nossa terra
Pão nosso de cada dia
Amassado de amargura
Também nasce da levada
Vem da nascente mais pura
Refrão
‘Levada
Nova’ da serra
Que vem
da ‘Fonte Vermelha’
Passas na
Ribeira Seca
Cantas
com ela à parelha
Água
que vens de lá de cima
Bem vês
a nossa canseira
Do povo
do nosso campo
És a mãe
e a companheira
Levadas
da nossa terra
Que vivem
à nossa beira
Lá andam
de terra em terra
Abraçam
toda a Madeira
11.Mai.17
Martins Júnior
Sem comentários:
Enviar um comentário