quinta-feira, 11 de maio de 2017

ÁGUAS DANÇANTES – LEVADAS CANTANTES





Hoje vou poupar as redes sociais à inflação dos dois ‘éfes’ que, de manhã à noite, vão entupindo os canais oficiais da informação. Deixo, pois, sossegados Fátima e Futebol  -  os dois tufões (ambos respeitáveis) que até sábado varrerão florestas, cidades, telhados e cabeças deste país.
Prefiro as breves viagens na minha terra, as que nos trazem aragens calmas e saudáveis, que perpassam à nossa porta e pedem licença para entrar.  São os livros, que hoje se ofereceram aos ilhéus. Na Ponta do Sol, a evocação da Primeira República, pelo investigador Gabriel Pita, à luz do romance histórico “DA CHOÇA AO SOLAR” do Padre João Vieira Caetano,  (1917) apresentado pela Prof. Luisa Paolinelli. No Funchal, a candura do “QUINAS  ” da escritora Violante Saramago Matos, cristalino como um repuxo matinal, porque inspirado e ilustrado pelas crianças das escolas de Câmara de Lobos e Calheta.
O terceiro sopro de frescura ecológica veio ter comigo na apresentação das “LEVADAS DA MADEIRA”, uma obra antológica primorosamente enriquecida pelos textos de escritores portugueses e estrangeiros sobre a epopeia incrustada no basalto da ilha, desde o início do povoamento. A iniciativa do Prof. Thierry dos Santos - com posfácio do Prof. Nélson Viríssimo e fotografia de Francisco Correia – traz um novo traço, ainda não revelado, e um olhar polissémico sobre as nossas levadas, nos seus multiformes contornos, desde o ecológico e literário até ao pragmático e social.
Apreciei a produção poética de escritores madeirenses sobre o mesmo tema (para mim, uma surpresa) e verifiquei que o cantar gorgolejante dos nossos canais de rega ultrapassou a rudeza rural das gentes com quem se entrelaçam as nossas vidas. E associei-me ao ritmo das águas correntes, reproduzindo aqui a letra da canção que, em 2012,  incluí no CD “TERRA DA MINHA SAUDADE”, a qual, composta há mais de duas décadas, foi coreografada no palco da Ribeira Seca, como homenagem à luta quotidiana  dos camponeses desta localidade. Homenagem, sobretudo, à água que fertiliza os nossos campos – tão bendita e sagrada como a água de Fátima – e aos heróicos construtores das levadas “que abraçam toda a Madeira”.

Água que corres baixinho
E vens do alto da serra
Tu és o nosso caminho
Dás o pão à nossa terra

Pão nosso de cada dia
Amassado de amargura
Também nasce da levada
Vem da nascente mais pura

Refrão
 ‘Levada Nova’ da serra
Que vem da ‘Fonte Vermelha’
Passas na Ribeira Seca
Cantas com ela à parelha

Água que vens de lá de cima
Bem vês a nossa canseira
Do povo do nosso campo
És a mãe e a companheira

Levadas da nossa terra
Que vivem à nossa beira
Lá andam de terra em terra
Abraçam toda a Madeira

11.Mai.17
Martins Júnior


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