sexta-feira, 5 de maio de 2017

DOMINGO, 7 DE MAIO, OS BISPOS FRANCESES TAMBÉM ESTÃO EM LUTA!


“Como é diferente o amor em Portugal” – desabafava orgulhosamente o purpurado português Gonzaga, na Ceia dos Cardeais, esse mimo de literatura do nosso Júlio Dantas.
No preciso dia em que escrevo estas linhas, direi, não com orgulho, mas com preocupação: Como é diferente o episcopado em Portugal, sobretudo  quando o comparamos com os seus pares franceses. Enquanto no nosso país, as dioceses preparam jubilosamente a seda e a púrpura das vestes pontificais para receber o Papa Francisco, em França os bispos estão divididos e, com eles, os padres, os cristãos e as associações católicas em geral. O caso é preocupante, tanto na pátria dos gauleses como noutros países e regiões onde a Igreja se defronta ( ou é obrigada a definir-se)  com as diferentes forças político-partidárias que se degladiam democraticamente na encruzilhada eleitoral.
A notícia do jornal Le Monde não deixa dúvidas: “O episcopado francês, dividido face à Frente Nacional  (FN) de Marine Le Pen”. É esta mulher que está no pomo de uma discórdia semelhante à de 2002 quando o candidato era o pai Le Pen contra Jacques Chirac. E tudo porquê?... Porque o comunicado oficial do presidente da Conferência Episcopal Francesa, emitido logo após os resultados da primeira volta, em 23 de Abril, “não apelava expressamente o voto contra a FN”. E o debate está aceso, comenta a jornalista Cécile Chambraud.
O  nucleo do conflito cinge-se ao seguinte dilema: os católicos votaram massivamente em Fillon, na primeira volta, esperando que  passasse à segunda, o que não aconteceu. “Ficaram órfãos de candidatura”. E, agora em quem votar?  Macron ou Marine?... Eis o nó górdio da questão.
Por um lado, o magistério do Papa Francisco tem-se desmultiplicado em censurar duramente os regimes totalitários e xenófobos, apelando angustiadamente ao acolhimento dos refugiados, por parte dos países europeus – o que manifestamente subentenderia o repúdio da opção FN de Marine. Neste pressuposto, muitos bispos saíram abertamente contra a FN, na linha do bispo de Troyes e presidente da organização ‘Pax Christi France’, Monsenhor Marc Stenger no seu twiter:  “Qual será o nosso boletim de voto em 7 de Maio”?  E respondia, de imediato:  “Não será seguramente o voto do medo, do ódio, da exclusão, da mentira, do fechar-se sobre si mesmo”. Mais clara não podia ser a indicação de voto. Do lado contrário, o bispo de Toulon, Dominique Rey, tido como conservador entre o episcopado francês, alerta: “A Igreja deve limitar-se à apresentação de princípios e não dar indicações de voto. É uma boa postura esta e é a minha postura”. A corrente mais interventiva, porém,  considera esta atitude como uma demonstração de fraqueza, comparando-a com a de 2002, em que o episcopado mandou os católicos votarem em Jacques Chirac contra Jean-Marie Le Pen”. Entretanto, o director da agência de sondagens, Jêrome Fourquet, reconhece que “é real e patente a capacidade da FN em atrair o voto dos católicos praticantes”. Acresce ainda o diferendo profundo entre Marine e Macron relativamente ao casamento, à procriação medicamente assistida e à situação dos homossexuais, teses liminarmente rejeitadas por Marine Le Pen.
   Nesta delicada conjuntura, o jornal católico La Crroix e o semanário La Vie apontam directamente e sem rodeios para o voto Macron. E o editorialista de Le Monde converge no mesmo sentido, ao citar um outro comunicado do Conselho Permanente dos bispos franceses, datado de 13 de Outubro de 2016, onde defendia o carácter pluricultural da sociedade francesa e denunciava “o projecto da extrema-direita que “obriga os nossos concidadãos a fecharem-se sobre si próprios, ( ‘os franceses autênticos’, diz a FN) e que nos isola em relação à Europa, com prejuízo das nossas liberdades”.
É neste ambiente de turbulência que se debatem os bispos de França perante o cenário eleitoral de depois de amanhã. Não se deixam ficar falsamente  imunes, sentados no cadeirão da indiferença, porque sabem e sentem que está em causa o futuro do seu povo, católicos e não católicos.
Resta-me fazer um desafio: E nós, em Portugal, teremos uma Igreja sensível aos reais problemas das populações?... Sendo certo que seria mais cómodo  ‘lavar as mãos na bacia de Pilatos’,  ouso perguntar a quem me lê: Como interpretaria a hipótese de ver os bispos portugueses tomarem a veste interventora dos seus pares franceses?... Caso sério que merece resposta!

05.Mai.17

Martins Júnior    

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