O
título é desconcertante. Como inédita e ‘perturbadora’ é a iniciativa que me atrevo
a comentar. Olhando em nosso redor, perto ou longe detectamos sinais de uma era
nova que parece reincarnar aquele anúncio milenar escrito por Joel: “Virá o dia
em que os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão” (Joel 2,28).
Na
sua mais intensa tradução semântica, o ‘profetizar’ abarca a palavra e o gesto
de anunciar boas novas, notícias coladas à vida e transfiguradas pela intuição
de quem descobre o “caminho, caminhando”, gente que vai tacteando por atalhos e
veredas à procura do marco geodésico que une e dinamiza as linhas do pensamento
certo. A essa gente costumamos levianamente chamar de ‘amadores’. E que surpreendentes
preciosidades nos trazem os que furam o desconhecido, descobertas latentes no
coração dos dias e que permanecem indiferentes aos doutos ‘profissionais’!
Foi
isso que nos patenteou a Fundação Gulbenkian, em Lisboa, quando anteontem o
Prof. Dr. Pe. Anselmo Borges deu a conhecer publicamente o seu novo livro “FRANCISCO,
UM DESAFIO PARA A IGREJA E PARA O MUNDO”. Não me refiro ao conteúdo da obra nem
me deixo mover pela ribalta “cinco estrelas” da intelectualidade portuguesa ali
presente. Nem mesmo pelo estatuto singular de certas personalidades, como o
Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o general Ramalho Eanes, o Prof. Adriano
Moreira, a Prof. Isabel Allegro Magalhães, o Prof.
Eduardo Lourenço, o Provedor da Justiça, catedráticos, escritores e jornalistas que
encheram a sala.
Outra
força maior mexeu comigo. E foi ver “claramente visto” o sopro do espírito
pairar no verbo e na voz de quem menos se esperava. Pelo menos, em áreas que,
por imperativo oficinal lhe não são
afins. O Autor pouco disse. Deixou aos
comentadores (a que chamo ‘amadores’) a tarefa de decifrar perante a enorme
assembleia as linhas mestras do livro. À tribuna subiram as quatro primeiras
personalidades que acima citei. Para
espanto meu e desconcerto da ortodoxia hierárquica tão propagandeada,
verifiquei que os tais ‘amadores’ conheciam profusamente da matéria em debate,
levantaram questões corajosas, direi mesmo fracturantes para a Igreja e
trouxeram para a liça a figura imponente e mansa de Jorge Bergollio. Ali
falou-se do pensamento religioso, puro e duro. Puro, enquanto processo de
liberdade. Duro, enquanto padrão de exigência. Livre e exigente, assim se nos apresentou
o fenómeno religioso. No verbo e na voz de ‘amadores’, gosto de repetir, que nos falaram da periferia
para o centro, da base para o vértice, seguindo o método indutivo enraizado na
vida, em vez do dogmático e artificioso esquema escolástico-dedutivo.
Foi
tal o impacto dos testemunhos apresentados, a transparência e elevação, na
forma e no fundo, que cheguei a convencer-me deste terrível dilema: seguir o
magistério de uma hierarquia autoritária não será uma deriva perigosa, porque
deturpadora, da Verdade do Cristo Histórico?... Pelos vistos, parece que sim. No
final do encontro, um assistente ‘amador’ veio dizer-me: “Está a ver?
Televisões, rádios, jornalistas, muitos aqui presentes. E a católica rádio “Renascença” onde é que está? Não veio. E a própria Igreja
oficial também não veio nem se fez representar.
O
Prof. Padre Anselmo Borges, segundo a agenda prevista, porá os chamados leigos –
os ‘amadores’ – de Portugal a falar de religião, cristianismo, liberdade,
compromisso, regresso às origens, na esteira do Papa Francisco. É obra! Em universidades,
fundações, associações. Para todos: professores, estudantes, políticos,
sociólogos, cristãos, agnósticos, ateus. É esta a grande evangelização nos
tempos que correm. E fá-lo, não a coberto de títulos hierárquicos, mas pelo
esplendor da Verdade que nos ajuda a descobrir. É por aí que também nós
queremos ir!
Por
isso, a Madeira espera a sua vez.
03.Mai.17
Martins Júnior
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