terça-feira, 23 de maio de 2017

TERRORISMO LEGAL QUE MATA SEM SE VER!



O ferrete em brasa que  desde ontem trespassa o coração da humanidade, mesmo o mais empedernido, não me deixa quieto - nem quem me acompanha nesta rede – para escrutinar a hecatombe silenciosa onde morrem diariamente  milhões de vítimas inocentes, não apenas as crianças de Manchester, mas os caminhantes da vida, em tudo quanto é sítio. Quanto à guerrilha urbana pouco poderia acrescentar aos comentários, lamentações e protestos já conhecidos. Que hedionda  sorte que nos coube, a de entrar no século XXI com a morte metida no bolso, na mala de viagem, debaixo da nossa cadeira de espectadores comuns! Voltámos à barbárie, impotentes e a perguntar-nos baixinho: qual é o comboio ou avião, a rua ou o estádio que se seguem?...
A outra guerra a que me refiro – essa, silenciosa, sofisticada, que passa como enguia sob os nossos pés e que, tantas vezes, deixamos passar impune – tem outro nome: corrupção. Alertaram-me mais impressivamente  para o facto os últimos acontecimentos ocorridos no Brasil de Michel Temer e todo aquele ‘nó de víboras’ (diria François Mauriac) em que se enrola e desenrola a política brasileira. Não sei se lhe chame tragicomédia, charada herói-cómica, sendo-lhe mais adequada a fétida cloaca onde nadam, fermentam e se reproduzem os mais abjectos monstros-parasitas das sociedades. Intragável assistir-se, ‘impávido e sereno’,  aos gritos ululantes dos parlamentares, capitaneados por Eduardo Cunha  e Michel Temer, para condenar Dilma Rousseff  sob a acusação de envolvimento no caso “Lava Jato”. Daí a meses, dias, “vai de cano” o grande inquisidor Eduardo, liminarmente preso pelo mesmo crime: Operação Lava Jato”. E é agora a eminência engomada, Temer de seu apelido e sempre de dedo em riste, que é acusado pelo mesmíssimo crime!  Quem suporta esta diarreia sucessória de bichos engravatados, ao mais alto nível?!... Parece que o povo brasileiro começa a acordar da embriaguez colectiva de sonhar apenas com a cabana, bananeira, , cachorro e violão do samba.
 Não deixa de ser sintomática a coincidência de que toda aquela faixa da América Latina enferma da mesma síndrome: a venalidade e a corrupção  a céu-aberto. Espantou-me, numa visita de estudo em que participei na cidade de Caracas (era o ano 2000, da transição do regime Rafael Caldera para Hugo Chaves) ouvir da boca de um madeirense bem posicionado na capital: “Aqui é assim, todo o sujeito que vai para ministro e não sai cheio e podre de rico não é considerado ministro nenhum”. E no México…e no Chile…até na Argentina da progressista  Cristina Krichner, também julgada por  corrupção.
Da América Latina, passaríamos à Espanha contemporânea, em que a direita “cristianíssima” de Rajoy – com a família Bárcenas na dianteira, além de outras figuras graúdas do PP  - tem sido arrastada aos tribunais e condenada a penas severas. E em Portugal, o sacratíssimo nome do “Espírito Santo” e outros edificantes empresários,  membros da ‘Opus Dei’, que descaro proxeneta lhes tem corrido nas veias! Para terminar, ancoramos no Vaticano, aquele do Banco Ambrosiano (das esmolas dos pobres cristãos contribuintes) ou do IOR (Instituto das Obras Religiosas) também metido beatificamente numa tenebrosa teia de lavagem de dinheiro, agora sob a alçada da justiça italiana.
Este alinhamento monocolor, sob o ponto de vista religioso, tem a ver com a apreciação crítica de certos sociólogos e economistas que atribuem à educação teológico-moral (falsa teologia e falsa moral)  que os europeus colonizadores levaram para outros continentes, em cuja “catequese” apregoavam os brandos costumes e o perdão que Deus misericordiosamente outorga por via da confissão dos pecados. Será, não será?... O certo é que o mesmo paradigma não fez carreira nos países de origem anglo-saxónica.
Muito mais poderia juntar neste vasto campo de investigação.  No entanto, o mais deplorável aconteceu quando a (in)justiça dos humanos legisladores inventou um altar sagrado onde armazenar  intocavelmente  as fortunas clandestinas, porque nascidas do ventre da podridão, dinheiro sujo das armas, drogas, prostituição e quejandos. Legalizar o crime, a fuga aos impostos, a especulação, no antro dos offshores e praças financeiras similares! Eles aí andam, bombistas à solta, sugando o sangue dos jovens, crianças, idosos, matando num silêncio sádico tantos inocentes. Legalmente!!!!!
Sem levar ao cúmulo esta angústia, que não é só minha, mas de todo o cidadão honesto,  é caso para perguntar: Se a uns é lícito roubar e destruir legalmente o direito à felicidade, por que não nos será permitido – dizem os marginais - fazer o mesmo, pelos meios que eles consideram ilegais e ilícitos?...
Depende de cada de nós estarmos  atentos ao destino dos orçamentos locais, municipais, regionais, nacionais e europeus. Porque são nossos. Para que haja higiene nas relações humanas e para que o tal ministro de nome desconchavado, o holandês Jeroen Dijsselbloem, retire o que disse acerca dos povos do sul. Acerca de nós, portugueses.
Nesta guerra de terrorismo capitalista sub-reptício, ainda podemos intervir. Com as armas da razão crítica, esclarecida, legal e vigilante.

23.Mai.17
Martins Júnior

        

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