Dentro de mim
Para achar a criança que eu já fui
E cada tarde é um fim
Cada manhã um recomeço
Sem astrolábio que preste
É o sonho que me leva
Do vento norte ao mar do leste
Assento os pés num chão estranho
Que já foi meu
Não sei se é cinza ou brasa ou treva
Só sei que não sou eu
E sempre cada tarde é um fim
Cada manhã um recomeço
Agarrado
Ao cajado curvo dos anos
Imploro e brado
Aos deuses sobre-humanos
Se viram por aí
Aquele olhar sem mancha
Da criança que eu vivi
Onde ficaram
Ou que estrelas abraçaram
Esses bracinhos de anjo esses dedinhos de lã
Que hoje tecem a saudade?
E é sempre um fim a tarde
E um recomeço a manhã
Três vezes rondei o equador
E outras mais juntei os polos extremos
E tornarei seja onde for
Sem velas sem mastros sem remos
Para dormir um instante
Boiando em concha no aquático vaivém
Do ventre da minha mãe
Do que eu era
O que ficou?
‘Descansa Homem/Mulher e espera
O solstício vem mais cedo
Devolver-te em segredo
O Graal que demandas
E a tarde não será mais fim
Nem a manhã recomeço
No empedrado escuro espesso
Que tu pisas
Estão lá as pegadas e o verde campo
E os pèzitos de criança
Dentro das tuas frouxas mãos pesadas
Palpitam gorjeios e cantatas
Das primaveras de outrora
Nos teus olhos baços
Pelos ventos e marés espinhos e
sargaços
Escondem-se as pupilas infantis
Mais ricas que os rubis
Que vêm do Oriente
E se o teu coração bater baixinho
Pára e escuta
São os vagidos do menino
Que tu foste
No seio da tua mãe
Não corras mais nem tropeces
Onde estás está também
A criança que tu és
O sonho que mereces’
….
E Maio findo
Da sua noite mansa
Nasceu o Junho lindo
Do Dia da Criança
31.Mai-01.Jun.17
Martins Júnior
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