sábado, 5 de agosto de 2017

222… 222 … repito 222 – ESQUEÇA ESTE NÚMERO!!!!!!


Hoje arrisco-me a apanhar umas valentes bordoadas electrónicas, na mesma linha de correio por onde escrevo este arrazoado de circunstância. Porque, propositadamente, escrevo na hora em que  por tudo quanto é sangue português  corre açodadamente a ‘luta´ entre a capital do Império e o berço que lhe deu o ser. Mais claro, escrevo enquanto oiço à distância o cachão frenético  dos que assistem, via TV, o desafio entre o Benfica de Lisboa e o Vitória da cidade-mãe da nacionalidade, Guimarães.
Lá se vai todo o encanto que tinha reservado para este fim-de-semana. Hoje mando a poesia às urtigas e destoo militantemente da euforia que por aí anda desenfreada. Acentuo: hoje  cresceu uma força maior dentro de mim para cumprir o que, de há muito tempo, já tinha decidido: desligar o televisor quando e sempre que traz à rua  e polui o quarto o que  ao futebol diz respeito. Sejam os jogos, os comentários, os  ‘doutos paineleiros’, alguns até derrotados nas lides políticas,  que se sentam em mesas redondas para moer e remoer o rectângulo de que se alimentam. Passei a detestar liminarmente.
            Perguntarão o motivo desta decidida pulsão contra a absoluta monarquia do ‘desporto-rei’, assim cognominado pelo vulgo vassalo. Acusar-me-ão de anti-futebolista primário- Mas dali não saio desde que os noticiários arvoraram em tresloucadas parangonas o enunciado no título: 222! Isso mesmo: venderam duas pernas do esqueleto de um homem por 222 milhões de euros!!! Dizem mesmo que a ‘módica quantia’ vai esticar para 280 milhões. E lá vão mais seis s exclamações!!!!!!...
Nem me dou sequer ao incómodo de repetir argumentos e considerandos sobre este mercado negro – a nova escravatura, esta de luva branca – que rumina diamantes e humilha  a condição da humanidade que moireja toda a vida sem nunca ver na  sua mesa senão o ‘pão que o diabo amassou’. Venham os economistas e façam a contabilidade entre o Deve e o Haver desta indústria exportadora-importadora. Venham os psicólogos e educadores e  perscrutem a mentalidade de uma criança ou de um jovem colocados perante a ‘inutilidade’ de estudar e a fábrica de fazer dinheiro com um par de botas…
Mesmo que Manuel Alegre lhe dedique poemas ou que Vitorino alinhe notas musicais na relva alentejana soltando loas aos futebois, não hesito em classificar todo este emaranhado de compras e vendas como uma requintada forma (encapotada e idolatrada pelo rebanho ignaro, de alto a baixo) digo, uma forma encapotada  de capitalismo selvagem, galopante. Não é por acaso que o PSG deixou de ser francês para tornar-se uma colónia de um dos representantes do petróleo das arábias, o tal que deixou cair dos calções os tais 222 milhões.
Fosse um médico, um enfermeiro ( hoje mesmo,  certa comunicação social esteve de orelhas fitas para criticar) fosse um professor, um administrador consciente, um operário competente, um cientista ou até mesmo um político honesto a reclamar idênticos honorários – e caíam o Carmo e a Trindade, “olha os parasitas, olha os ladrões, grandes vigaristas, abutres da inflação”!  Mas  ao “bípede sem penas” (relembro Platão) que tem a bola no papo, já ninguém critica, todos aceitam e esperam mais. Quem será o senhor que se segue, nei-mar ou nei-terra ou nei-ar?!
Fico-me por aqui, esperando as bancadas que muitos vão arrancar e atirar  ao rosto deste escrito. Mas sei também que haverá por aí alguém que me acompanhe, tal é a obscenidade, como dizia hoje um conceituado jornalista, do mercado negro das, enfaticamente chamadas, transferências. Só me resta confirmar a decisão que originou este texto prosaico, mas esclarecido e militante. Porque (reafirmo o que disse há algum tempo) abrindo  o meu televisor para aturar pontapés no couro-não cabeludo, os sábios e falantes  “furões” da caça futebolísticas ou a cloaca de corrupções que fedem  dentro e fora dos estádios –aí já estou a ser cúmplice-consumidor e comparsa-vendedor dos tóxicos produtos que destroem os valores e minam as sociedades.
Amantes do verdadeiro desporto que torna são o corpo e saudável o espírito, “anima sana in corpore  sano”, Sim! Predadores e traidores aos ideais olímpicos, Não!

05.Ago.17

Martins Júnior    

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