quarta-feira, 23 de agosto de 2017

QUEM PERGUNTA?... QUEM RESPONDE?...

Não é mais que um desabafo, quase sem palavras, o que hoje vos trago. E é este: 
Desde o 15 de Agosto ainda não saí do Largo da Fonte. E ninguém de lá me tira tão cedo. Por onde quer que eu vá, estala-se-me todo dentro de mim aquele tronco secular.  No ‘Campo Santo’ de São Martinho, Monte ou São Gonçalo,  no cume das montanhas a arder, nos terramotos ou nas aluviões devoradoras de vidas e haveres, em tudo vejo o fantasma daquele Monte esmagador, intransponível. Quero ouvir-lhe a voz – depressão, prece, gemido ou grito – o que tem a dizer-me, a interpelar-me,  a responder-me.
Porque ele anda sempre a perseguir-me para exigir-me uma resposta. A mim e a todos aqueles que não se deixam submergir no desespero nem consentem embotar  o delicado tecido da sua sensibilidade. Mexe com todos nós, seres pensantes.
O que se tem visto publicamente não passa de uma arena de interesses marcados pelo mais cínico mercantilismo em que o que mais conta é o vocação de solteira, atribuída à culpa. Baixo, insensível, mesquinho e desrespeitador dos mortos!  Podem morrer cinco pais, mães ou crianças, dez, doze, treze: o importante é que a culpa não morra…solteira. Recuso-me a entrar por esse exclusivo pântano político, de um atroz oportunismo. A Justiça ditará. Inexoravelmente!
As perguntas e respostas que eu procuro são as que irrompem do chão onde se consumou a tragédia. Um chão sagrado, iluminado pelas sacrossantas velas das “promessas”, um encendrado voto de divino amor à “Santa Milagrosa”.  E a grande incógnita que me bate na mente e no coração é esta: Onde está Deus no meio de tudo isto?... Que estatuto ou que função desempenhou ali a “Sua Mãe”, Senhora do Monte?...
Interessam-me estas perguntas e dou tudo de mim a quem mas responda. Porque são de todos os tempos e lugares. Porque, sobretudo, ouviu-se a tremenda informação do Pontífice oficiante na tribuna do sacro altar da nossa catedral: ”Deus chamou a si esses nossos irmãos”!!!... Então, Deus estava lá!?... Para chamar treze vítimas inocentes!?… Mas, para isso, primeiro teve de chamar o velho carvalho adormecido nos jardins do esconderijo… Quem poderá suportar semelhante paradoxo?
Deixem-me dormir descansado esta noite. Vou parar, por agora. Mas sei que o que não vai parar  amanhã é esta luta interior. Porque, após quase oito décadas de educação religiosa acumulada, não quero morrer sem encontrar resposta  a esta pergunta: O que é que tem a ver a Religião com tudo isto? Estará a Religião casada com esta e outras tragédias… ou viverá eternamente solteira e protectora?...
Ajudem-me a encontrar um lampejo de luz serena e inteligível.  Porque vou continuar a escavar o sempre inacabado túnel da Vida e da Morte.
Que os que tombaram no ‘chão sagrado’ iluminem a obscura e breve estrada dos vivos. É a maior homenagem que lhes podemos prestar.

23.Ago.17

Martins Júnior     

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