quinta-feira, 3 de agosto de 2017

FAZ DE CADA DIA O TEU “DIA ÍMPAR”


E por ser Agosto… deu maior gosto regressar aos “Dias Ímpares”.  Neste regresso, dei comigo a pensar na semiótica dos “Dias Ímpares” e,  por instinto, vi e senti a atracção irresistível, quase mágica, da aritmética dos números assim designados. A começar pelo número 3 - símbolo da perfeição e da Trindade - o 5 dos cinco dedos espalmados na mão,  o 7 do setestrelo, o dos dias da semana, o dos mitos bíblicos, depois o 11 das paixões futebolísticas e o 13 fracturante, da sorte quando acerta e do malogro quando é azar, o 21 dos solstícios e o 25 da revoada de cravos vermelhos… enfim, razão tenho eu para desentranhar da calculadora do Tempo a filia de tudo quanto traz a marca do  afeiçoado “Ímpar”. Verdade se diga que, nesta dança ambulante dos números, o “Par” é tão essencial ao “Ímpar” porque sem aquele também este não ganharia  a autonomia e o brilho que ostenta. Sendo certo que  sem  “Par” não haveria  “Ímpar”,  é notório que é este último que transporta o temão e a vanguarda, talvez porque participa directamente  do 1 inicial, Um, Único, o Absoluto.
Feita esta deriva semântica, gongórica talvez, das “imparidades” numéricas (longe das destruidoras ‘imparidades bancárias’) o que pretendo, de verdade, é desafiar a sucessão dos dias e das horas, para formular um desejo e um apelo a quem comigo navega: “De cada dia que passa faz dele o teu “Dia Ímpar”. 
Utopia, diversão e delírio – dirão alguns. Porque nem todos os dias são de festa ou de amores correspondidos ou de optimismos volantes – dirão outros. Como falar assim ao mendigo da valeta, ao coração traído, ao paciente impaciente num  leito de hospital?...
Quão difícil é penetrar no mundo inacessível de cada passageiro da rotativa misteriosa do planeta! Dava tudo para ver chegar aqui Fernando Pessoa e ouvir-lhe a ‘Mensagem’ deste apelo urgente e necessário: Que é o homem sem essa utopia e sem essa loucura senão um “cadáver adiado que procria”?!  Por isso, torna-se urgente e necessário encontrar rubis dispersos por entre os cardos e os pedregulhos que retalham os nossos pés doridos. Haverá sempre algo a descobrir á nossa beira, talvez no dentro do mais dentro que nós somos e de que tantas vezes fugimos. Mesmo nas grades da prisão há quem vislumbre um cântico de liberdade que nos quer deitar a mão. Recordo uma entrevista ao falecido Dr. Mário Soares: “Estando preso numa masmorra  em África pela Pide, ao chegar todas as manhãs ao postigo da minha cela, nunca tive aquela sensação, ai que dia tão chato, pelo contrário exclamava de braços abertos: Mais um dia que me aproxima do Dia da Liberdade”!
Já aqui citei Gilbert Cesbron, quando classificava Ma prison c’est un Royaume , a minha prisão é um Reino”. Tudo está na força motriz que nos comanda, essa força por nós cobiçada e conquistada, que tanto se chama ideal, fogo, paixão, como pode acontecer num outro olhar sobre a paisagem que nos inunda, um amigo, um livro, um beijo ou até mesmo uma decepção transitória. Em pleno verão ou no tumulto dos invernos, cabe-nos a nós fazer de cada dia um Dia Novo, Dia  Único, “Dia Ímpar”.  É nesta encruzilhada que se encontram e abraçam o SENSO e o CONSENSO!
03.Ago.17

Martins Júnior

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