E por ser Agosto… deu
maior gosto regressar aos “Dias Ímpares”.
Neste regresso, dei comigo a pensar na semiótica dos “Dias Ímpares” e, por instinto, vi e senti a atracção
irresistível, quase mágica, da aritmética dos números assim designados. A
começar pelo número 3 - símbolo da
perfeição e da Trindade - o 5 dos
cinco dedos espalmados na mão, o 7 do setestrelo, o dos dias da semana,
o dos mitos bíblicos, depois o 11 das
paixões futebolísticas e o 13
fracturante, da sorte quando acerta e do malogro quando é azar, o 21 dos solstícios e o 25 da revoada de cravos vermelhos…
enfim, razão tenho eu para desentranhar da calculadora do Tempo a filia de tudo
quanto traz a marca do afeiçoado “Ímpar”.
Verdade se diga que, nesta dança ambulante dos números, o “Par” é tão essencial
ao “Ímpar” porque sem aquele também este não ganharia a autonomia e o brilho que ostenta. Sendo
certo que sem “Par” não haveria “Ímpar”, é notório que é este último que transporta o
temão e a vanguarda, talvez porque participa directamente do 1
inicial, Um, Único, o Absoluto.
Feita esta deriva
semântica, gongórica talvez, das “imparidades” numéricas (longe das
destruidoras ‘imparidades bancárias’) o que pretendo, de verdade, é desafiar a
sucessão dos dias e das horas, para formular um desejo e um apelo a quem comigo
navega: “De cada dia que passa faz dele o teu “Dia Ímpar”.
Utopia, diversão e
delírio – dirão alguns. Porque nem todos os dias são de festa ou de amores
correspondidos ou de optimismos volantes – dirão outros. Como falar assim ao
mendigo da valeta, ao coração traído, ao paciente impaciente num leito de hospital?...
Quão difícil é penetrar
no mundo inacessível de cada passageiro da rotativa misteriosa do planeta! Dava
tudo para ver chegar aqui Fernando Pessoa e ouvir-lhe a ‘Mensagem’ deste apelo
urgente e necessário: Que é o homem sem essa utopia e sem essa loucura senão um
“cadáver adiado que procria”?! Por isso,
torna-se urgente e necessário encontrar rubis dispersos por entre os cardos e
os pedregulhos que retalham os nossos pés doridos. Haverá sempre algo a
descobrir á nossa beira, talvez no dentro do mais dentro que nós somos e de que
tantas vezes fugimos. Mesmo nas grades da prisão há quem vislumbre um cântico
de liberdade que nos quer deitar a mão. Recordo uma entrevista ao falecido Dr.
Mário Soares: “Estando preso numa masmorra em África pela Pide, ao chegar todas as manhãs
ao postigo da minha cela, nunca tive aquela sensação, ai que dia tão chato, pelo contrário exclamava de
braços abertos: Mais um dia que me aproxima do Dia da Liberdade”!
Já aqui citei Gilbert Cesbron,
quando classificava Ma prison c’est un
Royaume , a minha prisão é um Reino”. Tudo está na força motriz que nos
comanda, essa força por nós cobiçada e conquistada, que tanto se chama ideal,
fogo, paixão, como pode acontecer num outro olhar sobre a paisagem que nos
inunda, um amigo, um livro, um beijo ou até mesmo uma decepção transitória. Em
pleno verão ou no tumulto dos invernos, cabe-nos a nós fazer de cada dia um Dia
Novo, Dia Único, “Dia Ímpar”. É nesta encruzilhada que se encontram e
abraçam o SENSO e o CONSENSO!
03.Ago.17
Martins Júnior
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