Chegou Agosto. Do sol nado e do sol
posto. De fazer um filho e fazê-lo por gosto, aconchegado à sombra das
persianas de um amor de verão. E à noite vem o luar pleno, tão diverso do Luar
de Janeiro que deita flocos de melancolia, aquela que encheu de neve e turbação
o coração de Augusto Gil. Mas o Luar de Agosto é outro. Igual ao rosto dos
trigais, das eiras e das desfolhadas porque traz outro filho, também feito com
gosto.
E é com o mesmo gosto de sempre que
trago este filho de nome SENSO & CONSENSO dado na pia comum dos dias
ímpares.
Cumprido
o desiderato dos 500 textos e após um Julho atípico, retomo o nosso convívio a
meio da ponte deste percurso - sempre antigo e sempre novo – que nos une. Escrevo
como quem expõe à brisa da manhã a face descoberta ou como se mergulha na
avidez macia das ondas que nos chamam. Custa mais o processo criativo, aquele
tempo invisível e doloroso da gestação da ideia. Depois é o prazer de trazer à
estrada o novo filho e dá-lo ao beijo de quem passa.
É,
talvez, o móbil imperativo de quem escreve: saber que no tango da escrita há
sempre alguém que dança connosco. Por mais profundo e intimista o acto público
da escrita, ele há-de soltar-se sempre ao encontro de alguém. É essa a razão ontológica
da sua existência. Não pode o poeta contentar-se com o narcisismo isolacionista
do seu feudo privatístico. Revisito, neste parágrafo, o traço seguro de Pablo
Picasso quando escreveu: “Um quadro só vive para quem o olha”. Sem pôr em causa
a observação recente do grande filósofo e escritor português, Eduardo Lourenço
– “a ambição do exibir devora-nos” – não restarão dúvidas sobre o horizonte global
onde se há-de reflectir e comunicar o sopro criador de quem escreve.
Permitam-me um desabafo: sempre que me detenho frente às estantes das livrarias
e das grandes bibliotecas, um só pensamento me ocorre, num misto de desejo e
frustração. E oiço-me a dizer cá dentro: “Tanta gente que escreveu para mim,
tantos amigos e amigas que me enviaram mensagens directas e eu nunca serei
capaz de lê-las todas e saboreá-las por inteiro”. O amor com que alguém as
escreveu deverá ser o mesmo com que alguém as quiser ler.
No
primeiro de Agosto renovei o contrato com o “Carteiro” de Neruda para
entregar-vos a minha missiva interdiária, com um registo de correio de Agosto:
que o mesmo gosto com que foi enviada seja o mesmo gosto com que será aceite e,
se possível, retribuída.
Um abraço!
01.Ago.17
Martins Júnior
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