Hoje
a noite é de soluços e maldições, mais furibundos que as rajadas rasgando montes
e vales. Mal acaba a seca severa de cremar dezenas de corpos e aí chega o gelo
europeu picando de morte súbita outras tantas gentes carcomidas pelos tufões da
idade. Ainda lhes sobra um gemido final: “Oh Deus, onde estás”?
Desabam
por onde querem os demónios serranos, arrastam casas, esventram corpos e almas
que desaguam anónimos nos subterrâneos de betão e nas baías lamacentas. Mas
ainda há quem acenda uma vela na noite
escura gritando alucinado: “Que Deus és tu que não nos ouves”?
Tombam árvores assassinas, ruge a terra e
raiva o mar nos alicerces. As vilas e cidades respondem com esqueletos de humanos
e tijolos misturados pelo chão, E o grito é mais do que ele. É desespero e
blasfémia: “Afasta-te de nós, oh Deus que nos matas, sanguinário”!
Os
deuses não respondem porque nada têm a ver com isso. E cruzam-se todos os braços
sobreviventes, impotentes, interpelantes: “Onde iremos, a que porta bateremos”?
Para
onde quer que a bússola marque rumo, não há portas, há masmorras. Não há mesas,
há paióis. Não há pão, há balas e mísseis. E não acharemos mais campo ou
cidade, mas caveiras onde antes eram janelas, sangue espadanado pelo chão onde
era estrada, cemitérios em lugar de hospitais. Ainda resta um fio de garganta a
gritar por ALÁ. É Alá p’ra cá, Alá p’ra lá. Em vão, porque Alá aí não está.
Ai,
Damasco, Damasco, terra do bíblico general Naamã. Ai, Damasco, onde Saulo se
tornou Paulo e, de perseguidor, passou a pacificador, na esteira luminosa da Boa
Nova do Nazareno. Agora, Damasco, antro de monstros, seio assassino dos filhos
que dás à luz!
Diante
do hediondo panorama que todos os dias os media
nos trazem, ficamos com vergonha de ser inquilinos neste planeta. Vergonha
de pertencer a esta raça chamada de humanos - tão desumanos que eles são, tão
selvagens anti-humanos que nós somos!
Párem
de chamar Alá ou qualquer outro similar. O deus-terror está lá e tem nome e
palácio e, pasme-se, também tem religião.
É Bashar al-Assad, é Putin, é Trump, este travestido de defensor da contra-parte
beligerante. Eles por aí andam, garbosamente instalados, pelo Irão, pela China,
Turquia, Coreia do Norte. E pela Europa,
com as mesmas armas escondidas sob a capa de “cristã e ocidental”.
Se
contra os deuses longínquos nada podemos fazer (e que nada têm a ver com as guerras
dos homens) então é com os demónios
vivos, agentes de Lúcifer, que é preciso agir. Mas como, se são eles os
detentores exclusivos do dinheiro, do exército, da informação?!... Eis o
labiríntico tornado em que estamos condenados a viver os poucos ou médios anos
de vida sobre a terra. Não temos, não, muitos motivos de cantar, porque
escasseiam focos de esperança num mundo melhor. Satisfaçamo-nos com as
mensagens dos “homens de boa vontade” e no ambiente restrito da nossa vivência, construamos um
reino onde os mini-Trump´s, Putin´s, al- Assad’s e quejandos não tenham lugar.
No
Ano “33” que estamos a comemorar, não resisti a este desabafo global,
anti-sírio. Continuaremos a reviver o acontecimento, porque o assalto feito por
70 agentes policiais, às ordens do poder político-religioso de então ao modesto
templo da Ribeira Seca, fez-nos aprender que
só obstruindo o caminho aos ditadores é que cantaremos vitória. E o
mundo terá Paz.
03.Mar.18
Martins Júnior
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