Ontem e hoje, nas redes comunicacionais
da praça pública, cumpriu-se o costumeiro protocolo de estampar nas primeiras
páginas o friso de mulheres famosas, todas elas consagradas e aureoladas no panteão
da glória: escritoras, protagonistas do mundo da arte e do espectáculo,
empreendedoras, ‘primeiras damas’, enfim, as semi-deusas que “da lei da morte”
se vão libertando.
Pois hoje escolhi mergulhar no bojo da
história, como quem volta ao seio materno, para encontrar as raízes milenares de
todos os tempos – do passado, do presente e do futuro – e trazê-las ao sol da
manhã para que o seu brilho, de ouro fino, resplandeça diante dos nossos olhos.
São as mulheres anónimas, gente do Povo, genuínos exemplares de uma
feminilidade feita de amor e ânimo, doçura e fortaleza, telúrico encanto e
força motriz que arrasta gerações. Tal como o veio de água que silenciosamente
irriga a terra, faz florir os campos e alevanta, sempre silenciosamente, os
imponentes castanheiros, assim são elas: envoltas nos seus xailes antigos,
imperceptíveis quando passam, até de mãos e peles enrugadas, mas diligentes,
criativas, poderosas na sua acção laboral e pedagógica.
Louvo
as mulheres dos pescadores, autênticas líderes em terra, que na ausência do
marido, organizam a empresa doméstica da alimentação e da educação dos filhos.
Quantas vezes vi eu no seu dinamismo diário a concretização inteira do
pensamento de Jean Guitton: “Um mulher doméstica pode demonstrar tanta ciência
económica e tanta intuição governativa como um ministro das Finanças”!
Louvo no mesmo pedestal as mulheres de
emigrantes que viram os maridos partir para longe (como os refugiados de agora)
e tomar o comando da casa, dos campos, da rega, da cava dos terrenos, sem
descurar a manutenção da organização familiar, os filhos à escola, a ida aos
médicos. Aí é que eu via e vejo a
mulher, no seu dúplice trabalho de ser mãe e pai ao mesmo tempo.
Louvo
as mulheres bordadeiras, (as mesmas que acabei de citar) que alimentavam a
família com o ponto da agulha até às quatro e cinco da manhã e com o cheiro dos candeeiros a petróleo, que se lhes pegava
à roupa e aos pulmões. Louvo-as, ainda, junto ao lar da cozinha, preparando as
refeições, cumprindo aquela nobre missão: “É tão belo descascar batatas como
construir catedrais”
Louvo
estas e outras mulheres que, desde há 33 anos, vêm defendendo a sua terra, o
templo que o Povo construiu e sobretudo a
honra e a liberdade da sua ‘pátria rural’. Vi-as também nas lutas contra
os senhorios. Foram elas, corajosas que exigiram à PSP que soltasse os maridos
presos-à-força, aquando da ocupação da igreja da Ribeira Seca, há 33 anos!
Impossível esquecer o sacrifício dessas mulheres, na altura do bombismo da “Flama”,
nos finais da década de 70 do século passado, as quais fizeram uma escala
diária de vigilância e vinham durante o dia
bordar no adro (os homens faziam o turno da noite) para contrariar as
ameaças dos “flamistas”.
Louvo-as
- a essas e a todas as valorosas mulheres
- que, sendo anónimas para a ribalta da fama mundana, são elas o suporte das
sociedades, cada qual na sua profissão. E recordo a sua alegria participativa
nas festas do Povo com versos originais
cantados nas romarias, como estes que recorto, a título de exemplo:
O
25 de Abril Viva o Povo que trabalha
Foi
um dia de alegria E dá toda a produção
Portugal
entrou de novo Ele um dia há-de vencer
Na
Divina Eucaristia
E mandar toda a nação
09.Mar.18
Martins Júnior
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