Para
apagar o rasto das “quintas-feiras negras” de todos os tempos, surge a
Quinta-Feira, a Maior! Começa ao cair da tarde
e não se lhe vê o fim. Ela é a do pão e do vinho, mas é-o também da frustração
e da amargura, de suor e sangue. Ela é a do perdão, mas também da traição. Do
amor e da vingança. Do triunfo e da tragédia anunciada.
Esta
é a tarde e a noite e a manhã que despontarão sempre, num ritmo incessante e
cíclico onde nasce e renasce toda a trajectória dos humanos viageiros. A
trajectória tem nome e estatura: é a mesa global que circunda o Planeta. Todos
têm lugar marcado neste banquete universal. Ninguém é excluído da boda. A
ementa é amassada de terra e água e sol criador: é trigo e é bacelo, pão e
vinho. Neste repasto sem mordomos brilha a cereja em cima do bolo de
aniversário: o abraço total, até para o espião, o ‘amigo’ traidor.
Daria
tudo para entrar no coração e nas pupilas do Nazareno, ler a lonjura do seu
sonho, ali mutilado, afogado na poça de sangue do seu corpo assassinado menos
de 24 horas após a ceia da despedida. O estratega infinito diante dos seus “homens
de mão”, doze pobres aprendizes, tímidos, de horizontes fechados!
Por
hoje, fixámo-nos na Mesa, no Pão e no Vinho. E no Perdão. Repousámos na
interpretação de Francisco Papa, quando abriu a cortina e anunciou; “A Comunhão deveria ser tomada na
mesma mesa comum… E preferencialmente nas duas espécies, pão e vinho”.
E
foi com redobrada emoção que todos os comensais repetiram o mesmo gesto de há
quarenta anos: aproximaram-se da mesa, estenderam a mão e tomaram a eucaristia.
Da minha parte, realizei um sonho de outrora: pegar o pão (pão-de-casa, amassado pelas mãos das pessoas
e cozido no forno a lenha) consagrá-lo, parti-lo
e comungá-lo. Devo dizer que nunca me senti tão perto da Última Ceia! E o povo
cantava:
Pão da terra que Deus
cria
Para a nossa refeição
Hoje é vida e alegria
P'ra quem vive em
comunhão
No
exercício comunitário do perdão, o reconhecimento dos erros e o esforço de
catarse interior fizeram toda a assembleia respirar o ar puro da concórdia,
acompanhando o refrão:
Com perdão e liberdade
Faz-se a Mesa da
Amizade
Mas
não acaba aqui a Quinta-Feira, a Maior. É tarde, é noite e é manhã. Sempre.
Porque “Jesus continua em agonia até ao
fim dos tempos”! (Blaise Pascal).
29.Mar.18
Martins Júnior
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