Mais
uma vez o debate. É dele que se faz a luz e dele é que nasce o dia. Debater é
viver. Porque ele vem do alto. Da
montanha ou da cidade.
E
hoje ele aí está em Carta Aberta. Das muitas encruzilhadas que trazia comigo
para debate em fim de semana, abandonei-as todas quando me caiu nas mãos essa
eloquente Carta Aberta aos governantes ilhéus. Ela vem dos altos da cidade, do
extenso “São Roque” e traz a marca do arauto mais corajoso desta ilha, Padre
José Luís Rodrigues.
Leiam-na
- com a mesma frontalidade com que foi escrita. Está aberto o debate. É a
Capelas das Babosas, no Monte, sob o título de Capela da Senhora da Conceição.
Reconstruí-la… ou não? Para cúmulo, reconstruí-la com o dinheiro do governo,
que é dinheiro do povo?...
Também
quero entrar na mesa, mas prefiro saborear a clareza e a segurança do texto
referido. Ao mesmo tempo, ressoam-me aos ouvidos fervorosas sentenças difundidas na rua, nos templos, nas
reportagens tais como esta: “O Monte nunca mais terá sossego enquanto a imagem
da Senhora não voltar para a sua Capela nas Babosas”!
Enquanto
fico à escuta de mais interpretações neste debate, limitar-me-ei a reproduzir o
diálogo em que fui interveniente com o
bispo Duarte Calheiros, em sua humilde casa de Volta Redonda, na periferia da
grande cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1972. Do século passado.
O
bispo acabara de chegar no seu Volkswagen oval, conduzido pelo próprio. E foi
esta a minha pergunta:
-
Senhor Bispo, andei toda a manhã pelas ruas da cidade e não vi a Sé da sua diocese. Onde
fica, porque quero visitá-la.
O
bispo, um robusto homem dos seus 60 anos de idade, sorriu, pegou-me pelo braço.
Levou-me à varanda que dava sobre a cidade. E, sem mais delongas, atira-me com
esta capciosa provocação:
-
Padre português, você vê acolá aquele pavilhão de zinco cinzento?... É uma
grande oficina, onde laboram três dezenas de metalúrgicos? … Essa é a minha Sé.
A sede da diocese. E mais à esquerda, você repara naquela fábrica. Para ela
trabalham mais de 100 operários. Essa também é a minha catedral. E mais lá ao
fundo, quantas vê você, padre jovem português?... Todas esses telheiros são os
altares da minha diocese. Entendeu agora onde fica a minha Sé Catedral?!
Entendi.
E de tal forma que jamais esqueci. O templo, a igreja, o altar estão onde estão
as pessoas. Na vida real, no trabalho, na luta, na acção.
Por
hoje, aqui me quedo. Está aberto o debate. Saia Luz!
25.Ago.18
Martins Júnior
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