terça-feira, 21 de agosto de 2018

NOVO MILAGRE DO DEBATE




Todo o debate é útil. Seja qual o seu desfecho. Umas vezes, levará a mudar de rumo, a erradicar todo um passado. Outras vezes, obrigará a voltar ao porto de partida para reiniciar a viagem que, entretanto, perdera a bússola. Outras, ainda, ficará na estação de serviço, aparentemente hibernando, ou em hospital de campanha em gestação prolongada até que chegue o dia, o ano, a década e até o século para ver o sol nascente. Sempre é útil o debate. O pior -  porque inútil e putrefacto – é o seu contrário, o silêncio cadavérico do molusco orgulhosamente, hermeticamente gradeado na sua concha.
Serve a introdução para todo o processo histórico, seja ele entre as quatro paredes do apartamento ou entre instituições, pátrias e continentes. Hoje, decidi ultrapassar (mas sem nunca esquecer) a efervescência de tantas crises que todos os dias nos caem nas mãos e onde o debate está ao rubro, parece que “sem terra à vista”: são as ameaças de guerra, são os êxodos de migrantes forçados, batidos na sua pátria e chutados da pátria alheia. São ainda os debates ideológicos que não requerem pressa nem esgares de alma.
Ultrapasso, portanto, todo esse mar revolto e trago à ribalta do dia o milagre do abraço que o debate de 65 longos anos realizou entre famílias forçosamente desavindas, separadas, mutuamente hostilizadas. Refiro-me ao memorável encontro na estação  turística de Qumgang, Coreia do Norte, entre irmãos que desde 1953 jamais se tinham visto. Muitos já terão partido sem ver a luz que as trevas da ira lhes roubaram. Mas o feito aí está. Tão grande e proclamatório como a queda do Muro de Berlim, em 1989!
A fúria cega entre dois homens originou a Guerra das Coreias e a mais horrenda separação de pais e filhos, a fuga desesperadas entre irmãos da mesma casa. Seis décadas transcorridas, outros dois homens realizaram o maior milagre, qual é o de voltar a unir braços e corações. O mago taumaturgo deste feito: o debate! Tivessem continuado os dois regimes – irredutíveis fratricidas – de costas voltadas, enclausurados cada qual no seu cavername sectário e nunca o Sol do Amor teria retomado a sua marcha de outrora na asiática paisagem. Se foi dolorosamente comovedora a separação, não menos emocionante, positivamente comovente foi o reencontro.
Eis a decisiva fecundidade do debate. Sem esquecer o último tema deste blog – o debate sobre o Celibato na Igreja, oportunamente proposto pelo pensamento consistente, coerente e transparente do Padre José Luís Rodrigues – seja-me permitido aditar que a questão em apreço é inimiga da pressa e do preconceito, por mais fervorosos e piedosos se apresentem. Daqui a 50 ou 100 anos, ainda haverá debate sobre a mesma praxis. Porque há mais de 50 e 100 anos já o caso era tema de prós e contras.
E se, para unir as duas Coreias foram precisos 65 anos, quanta décadas não levará o debate sobre um facto consumado há mais de 1000 anos?...
 O debate sério e consciente nunca perde o seu condão, semelhantemente na linguagem bíblica: “A Minha Palavra é como a água das chuvas: não volta às nuvens sem produzir o seu efeito”. (Isaías, 50, 10-11).
21.Ago.18
Martins Júnior

Sem comentários:

Enviar um comentário