Todo
o debate é útil. Seja qual o seu desfecho. Umas vezes, levará a mudar de rumo,
a erradicar todo um passado. Outras vezes, obrigará a voltar ao porto de partida
para reiniciar a viagem que, entretanto, perdera a bússola. Outras, ainda,
ficará na estação de serviço, aparentemente hibernando, ou em hospital de
campanha em gestação prolongada até que chegue o dia, o ano, a década e até o
século para ver o sol nascente. Sempre é útil o debate. O pior - porque inútil e putrefacto – é o seu
contrário, o silêncio cadavérico do molusco orgulhosamente, hermeticamente gradeado
na sua concha.
Serve
a introdução para todo o processo histórico, seja ele entre as quatro paredes
do apartamento ou entre instituições, pátrias e continentes. Hoje, decidi ultrapassar
(mas sem nunca esquecer) a efervescência de tantas crises que todos os dias nos
caem nas mãos e onde o debate está ao rubro, parece que “sem terra à vista”:
são as ameaças de guerra, são os êxodos de migrantes forçados, batidos na sua
pátria e chutados da pátria alheia. São ainda os debates ideológicos que não
requerem pressa nem esgares de alma.
Ultrapasso,
portanto, todo esse mar revolto e trago à ribalta do dia o milagre do abraço
que o debate de 65 longos anos realizou entre famílias forçosamente desavindas,
separadas, mutuamente hostilizadas. Refiro-me ao memorável encontro na
estação turística de Qumgang, Coreia do
Norte, entre irmãos que desde 1953 jamais se tinham visto. Muitos já terão
partido sem ver a luz que as trevas da ira lhes roubaram. Mas o feito aí está.
Tão grande e proclamatório como a queda do Muro de Berlim, em 1989!
A
fúria cega entre dois homens originou a Guerra das Coreias e a mais horrenda
separação de pais e filhos, a fuga desesperadas entre irmãos da mesma casa.
Seis décadas transcorridas, outros dois homens realizaram o maior milagre, qual
é o de voltar a unir braços e corações. O mago taumaturgo deste feito: o debate!
Tivessem continuado os dois regimes – irredutíveis fratricidas – de costas
voltadas, enclausurados cada qual no seu cavername sectário e nunca o Sol do
Amor teria retomado a sua marcha de outrora na asiática paisagem. Se foi
dolorosamente comovedora a separação, não menos emocionante, positivamente
comovente foi o reencontro.
Eis
a decisiva fecundidade do debate. Sem esquecer o último tema deste blog – o debate
sobre o Celibato na Igreja, oportunamente proposto pelo pensamento consistente,
coerente e transparente do Padre José Luís Rodrigues – seja-me permitido aditar
que a questão em apreço é inimiga da pressa e do preconceito, por mais
fervorosos e piedosos se apresentem. Daqui a 50 ou 100 anos, ainda haverá
debate sobre a mesma praxis. Porque há mais de 50 e 100 anos já o caso era tema
de prós e contras.
E
se, para unir as duas Coreias foram precisos 65 anos, quanta décadas não levará
o debate sobre um facto consumado há mais de 1000 anos?...
O
debate sério e consciente nunca perde o seu condão, semelhantemente na
linguagem bíblica: “A Minha Palavra é como a água das chuvas: não volta às nuvens
sem produzir o seu efeito”. (Isaías, 50,
10-11).
21.Ago.18
Martins
Júnior
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