sexta-feira, 31 de agosto de 2018

QUEM OS VIU E QUEM OS VÊ?... QUEM NOS VÊ E QUEM NOS VERÁ?...



Na transição de cada duodécimo do calendário, vem-nos à memória uma outra frase batida: tal como o clima transitivo, também a vida é, toda ela, transitiva - a vida, o clima, o regime, tudo é transitivo. E somos nós  os criadores, conscientes ou não, da transição
Os regimes transitivos. Têm-me fustigado no mais íntimo as notícias de dois regimes exemplares:  Nicarágua de Daniel Ortega  e  Myamar de Aung Suu Kyi, a líder-de facto do povo birmanês.
Quem se não lembra da sangrenta luta sandinista contra o ditador Somoza? Quem poderá esquecer o povo nicaraguense, a família Ortega, os intelectuais, com especial relevo para a Igreja na oposição, com especial relevo para o escritor e poeta jesuíta Ernesto Cardenal, mais tarde ministro da Educação do seu país. Todos heróis da reconquista da liberdade para o massacrado povo da Nicarágua. No entanto, que atmosfera se respira  em solo nicaraguense?... São recentes as agressões de Daniel Ortega contra os mais elementares direitos humanos. Perseguições, represálias e prisões sucedem-se em série, dizem as crónicas. “39 anos após a revolução, o herói sandinista tornou-se um tirano”.
Myanmar – antiga Birmânia. Uma mulher corajosa anti-regime é presa e assim permanece durante 15 anos. Libertada em 2010, mais  reforça a sua liderança na luta pela paz e contra a descriminação racial. O seu maior troféu foi o Prémio Nobel da Paz, em 1991. Ganhou, por mérito próprio, lugar cimeiro na galeria  dos heróis. Entretanto, agudizam-se as reivindicações dos ‘royingya’, aos quais o governo de Myanmar recusa conceder nacionalidade. É então que o governo intensifica uma tremenda vaga de expulsões daquela pobre etnia, ao ponto de um alto comissário da ONU ter exigido a demissão de Suu Kyi, pelo seu silêncio face aos trágicos acontecimentos e a devolução do prémio recebido em 1991. O êxodo forçado dos ‘royingya’ para o mísero Bangladesh tem sido equiparado a um genocídio humano.
E a pergunta – o pesadelo – é: Como foi possível tamanha contradição? Mais que as alterações climáticas, assusta-me a medonha capacidade do “Bicho-Homem”  em deitar por terra tudo quanto lhe custou a erguer! Que alucinante transição é esta de destruir com tanta indiferença o que gerações construíram com dor e amor ?!
O fenómeno não é novo. Pertence ao ciclo da história. Se rebobinarmos o filme, detectamos que até as grandes instituições – os seus homens e mulheres -  percorreram cegamente os mesmos trilhos. Lembremo-nos de uma Igreja que, de perseguida, passou a perseguidora, de proletária, a milionária, imperialista. Mais recentemente, está à nossa porta essa mesma maldição (dos homens e das mulheres de hoje) que transformaram o Eldorado de uma Venezuela num antro de miséria e abandono.
Neste tempo transitivo, somos nós os responsáveis pelo rodar da carruagem em que viajamos! Quem nos vê hoje e quem nos verá amanhã?
31-Ago-01.Set.18
Martins Júnior

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