Todo
o mundo se alvoroçou. “Nunca um Papa foi tão longe”… “O Papa Francisco mudou o
Catecismo”… E tudo isto porquê? Por uma
grande nova: A Igreja, por decreto do Soberano Pontífice, acaba de condenar a pena de morte, com a
emenda do nº 2267 do Catecismo.
Um
espanto!... Porque a notícia, sendo grande, não é nova. Basta pensar neste
pequeno país que é Portugal. Pois foi este escasso rectângulo, então com menos
de oitocentos anos de história, o primeiro país europeu a abolir a pena de
morte – mais precisamente em 1 de Julho de 1867. E logo no dia seguinte, das
bandas de França, o ilustre romancista Victor Hugo endereçou ao Diário de
Notícias de Lisboa a seguinte mensagem;
“Está abolida a pena de morte nesse nobre
Portugal, pequeno povo que tem uma grande história, Penhora-me a recordação da
honra que me cabe nessa vitória ilustre. Felicito a vossa Nação”.
Estranham-se,
pois, os estrondosos panegíricos em volta do Vaticano, com mais de 20 séculos
de história e só agora ‘descobrir’ aquilo
que outros países laicos já consagraram na sua Lei Fundamental. Com menos pompa
e circunstância, mas com mais empenho e profundidade comemorou Portugal os 150
anos da Carta d’El Rei D. Luis, numa organização da Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra, à qual tive a honra
de assistir
Serve
a presente nota para constatarmos a morosidade sistémica (para não dizer tacanha
e masoquista) da Igreja em acertar o passo com a História. O imobilismo e a
anestesia crítica têm sido o ‘catecismo’ de gerações e gerações. E quando surge alguém a colocar o óbvio na
mesa do quotidiano, agitam-se as cabeças e rumorejam as folhas de jornal:
Grande Nova! É o que se conclui da argumentação produzida pelo Vaticano: “Deduziu-se
uma nova compreensão do sentido das sanções penais por parte do Estado”. Tanto
tempo para os “embaixadores do Evangelho” descobrirem aquilo que qualquer estudante de Direito
aprende nas sebentas do 1º ano de faculdade, isto é, a “função ressocializadora
da pena”!
O
espanto - o quase sobressalto ideológico do planeta - que a notícia provocou só
demonstra o marasmo a que nos habituou a constituição dogmática de uma Igreja
anquilosada e “bem-aventurada”, de tal
forma que puxar a língua para a verdade chega a parecer heresia. Daí, o valor
deste Papa corajoso. Resta-nos esperar que ele não fraqueje, mas continue com a
mesma coerência em fazer regressar a Igreja à matriz original do seu Fundador.
Para tanto, falta uma condição “sine qua non”, a qual não creio ter força para
realizar enquanto vivo: renunciar ao absurdo e anti-crístico privilégio de
Chefe de Estado do Vaticano e, só então, voltar a usar as sandálias de Pedro, o
Pescador.
03.Ago.18
Martins Júnior
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