Tão
longe e tão perto, que até parecem faces de uma mesma moeda! Separa-os a latitude abissal do universo e une-os
um estranho estreito, tão imperceptível como o réptil das águas estagnadas que
se nos escapa das mãos, Ele é a mansão
idílica da princesa imaculada. Ele é o hediondo antro de unhas peçonhentas que
devora tudo quanto se lhe aproxima. Quando o equinócio lunar os junta lado a
lado, um arrepio sem dó percorre e atordoa o corpo inteiro. Insuportável, mas
(inexplicavelmente) aceite sem protesto!
A tanto chega o estonteante “bloom” da
indiferença individual e colectiva. Tudo se traduz em cifrões. A corrupta
máquina registadora abre-se sem pudor, seduz o utente e quanto ele possui,
fecha-o dentro da casa forte e engole-o até ao tutano. Já não há mais
respiração, nem canto, nem choro, nem talento, nem beleza, nem corpo, nem alma.
O que conta é o conto, o euro, os milhares, os milhões, os super-cifrões. O
valor facial aceite pelos cambistas-DDT é o cheque visado na praça financeira
mundial. Quanto vales? Quando te rende o emprego? Queres trocar a tua ciência,
a tua arte, a tua soberania mental e moral, a tua alma por um par de chuteiras,
só porque te rende milhões?... Tu, produtor soberano da tua personalidade sem
preço, queres expor-te no balcão dos feirantes como mercadoria sem lustre, só
porque arrecadas biliões?!... Já não vales pelo que és, vales pelo que tens.
Que isto se passe com o comum dos
mortais, de títulos transaccionáveis no mercado, suporte-se - sob protesto,
embora O que, porém, repugna e revolta é chutar o Papa Francisco para a bolsa-valeta
dos (des)valores mercantis. Revejo-o
durante e pós-visita pastoral ao Panamá, país-esgoto autorizado para a lavagem
da podridão do vil metal, arrancado de bocas famintas e sem abrigo. Revejo-o
nas reportagens televisivas, aclamado por 300.000 jovens, mas pouco ou nada o encontro
na imprensa diária internacional. Só em Portugal se levanta um coro
presidencial, a partir de Belém, festejando a vinda a Portugal em 2022. E qual
a nota marcante da sua visita? Aí estão dois títulos garrafais: “VISITA DO PAPA
RENDE MIL MILHÕES DE EUROS”. E num outro matutino: “VINDA DO PAPA VALE O DOBRO DA WEB SUMMIT”.
É
por demais humilhante, porque degradante, erguer no altar da sua visita a
Portugal uma descomunal caixa multibanco ou uma roleta de casino como cartaz
representativo de uma mensagem que ultrapassa e derruba aquilo que ele próprio
chamou de “economia que mata”. Seria caso (é uma opinião) para que o Vaticano
suspendesse todas as deslocações do Papa a países que publicamente e sem
escrúpulo publicitassem a visita de um Pastor-Peregrino, como se de um canal de
resíduos tóxicos se tratasse. É o que se passa também no cinicamente denominado
“Turismo Religioso”. Assim se prostituem os valores, conspurca-se a Fé e
destrói-se a Esperança num mundo melhor.
Não
é esse o pensamento do Papa Francisco. Ele não vem a Portugal como
caixeiro-viajante ou vedeta de parir dinheiro. Ouso admitir que se ele pudesse,
mandaria retirar de cena tais anúncios abusivos e redutores que mais não são do
que provocações à sua nobre missão de referência espiritual da humanidade.
Quanto a nós, crentes e responsáveis, urge banir do nosso glossário
sócio-religioso a grotesca reedição de “A Bela e o monstro”.
29.Jan.19
Martins Júnior
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