Em
Janeiro de 2019, todas as alvoradas se juntam numa apoteose de cores. É o mês de
todos os alvoreceres. Se subires ao mais alto miradouro do planeta, logo verás
a explosão polícroma do fogo aos borbotões lavrando os vales e as colinas, os
abismos mais profundos e as mais longínquas planuras. Parece que não é de
alvorecer a paisagem, mais parece de alvoroço. Aqui, acolá, mais além – por tudo
quanto é mundo – tudo fervilha e sobressalta, ora melopeia cantante, ora
tumulto ululante.
É
no seio pacato da natureza, é no silêncio do laboratório de investigação, é nas
escolas, nos hospitais. na rua, nas praças públicas, nos parlamentos, nas sedes
partidárias, nos campos de guerra. Por onde passa a mão humana, há um toque
mágico de metamorfose anunciada. Até naquele estádio supranatural, no habitat
do espírito, dito de outra forma, até no horto íntimo da instituição Igreja.
Parece que tudo ficou fechado num estranho recanto do outro mundo para abrir-se
misteriosamente na ribalta dos 600 anos da nossa história insular.
Mas
todo o alvorecer tem a sua cor. Ele é de ouro para os pioneiros da investigação,
conquistadores da ciência que salva. Ele é de prata para todos aqueles que
sobem os silenciosos socalcos do estudo, do trabalho, do esforço quando depois
alcançam a almejada meta. Ele é roxo macerado na arena do quotidiano onde a
dignidade humana é espezinhada e triturada até que se transforme em sangue de
vitória pelos direitos e deveres em pé de igualdade para todos. Mas o alvorecer é de preto na abertura
oficial do ano judicial, no ódio surdo das sedes partidárias onde a ganância de
poder e dinheiro fabrica facas longas para exterminar irmãos da mesma família e
assentar-se nas mesmas poltronas. Em França, o alvorecer é amarelo, cabeça,
coletes, tronco e membros, abalando corpos e cidades. É-o também em Londres, com um Brexit desestabilizador de nações e
continentes. Mais negro, ainda, é o amanhecer para milhares, foragidos de
guerra e presos depois nos espinhaços de arame farpado.
Qual
é a cor do teu alvorecer?... Do meu, do
nosso?...
Porque
é a alma que dá cor à paisagem do alvor. A ideia, o sonho, a meta. Será sombrio
e malsão o amanhecer, se mesquinhas, peçonhentas forem as motivações do
habitante da madrugada.. E será rubro, aureolado o teu alvorecer, se
transparentes e magnânimos forem os teus olhos ao saudar a manhã, o dia, o ano
que se te oferecem como dádiva amorosa.
No mar
convulso das motivações que por toda a parte pululam, logo ao alvoroçado romper
de 2019, à minha (à nossa) mão eu peço que me ajude (que nos ajude) a pintar de
luz e juventude estes velhinhos 600 anos – no Ano Novo do trabalho, da escola,
da ruas, da Política e até da Igreja. Na Ilha, em Portugal, na Europa. Até onde
alcançar a nossa vista!
15.Jan.19
Martins Júnior
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