Interminável
parece a viagem dos “Três Reis” – os donos do planeta – às terras do Oriente.
De como foram recebidos, ou não, na modesta casa de Nazaré, nada se sabe. O
secretismo que ronda o acontecimento não augura bons sinais. Enquanto isso,
retoma-se a vida nestas ocidentais paragens lusitanas.
Passada
a meia-noite e repassadas as passas da sorte, voltou a prosa dos dias. Não
obstante os calorosos votos de Feliz Ano Novo, tão fugazes a sair-nos da boca
quão céleres a desfazer-se como as fagulhas brilhantes caídas no mar, a verdade
é que o cenário mudou, apagaram-se as ampolas multicolores amarradas às
árvores, finou-se a magia da cor, da avenida, da Placa Central, enfim,
acabou-se o teatro do magnífico anfiteatro. A cidade emudeceu, os campos esmoreceram,
as esplanadas são praias vazias. Cheios apenas os aeroportos, gente a correr,
de malas aviadas, não vá a aeronave deixá-los em terra, os milhares de turistas
de passagem.
Em
redor da ilha, liquefez-se o imaginário anel do bolo-rei que a circundava.
Agora, é a expectativa, a grande incógnita que aí vem: o regresso às aulas, a
rotina do trabalho (dos que o têm) e o espinho da incerteza (dos que o não
têm), a saúde e as suas oscilações, a família, numa palavra, o futuro.
Alterou-se, notoriamente, o semblante dos que ontem nos sorriam e cobriam-nos
de mimos e festas. Como no facebook (dizem-se
amigos no tablet e desconhecem-se na
rua) passamos, os transeuntes, uns pelos outros, cabisbaixos, indiferentes, por
vezes hostis numa espécie de diminuta guerra-fria. Como tudo mudou em menos de
uma semana!
Alongando
o olhar pelos extensos continentes, poucas ou nenhumas são as amostras de
sorriso franco. Como e para quem? Para os precários, toda a vida escravos por
um dia? Para as vítimas do shutdown da maior potência económica? Para os náufragos resgatados do Mediterrânio, à espera de um porto que os
acolha? Somam-se os “coletes amarelos”, junta-se o arcebispo de Lion,
Mons.Barbarin, sentado no banco dos réus por encobrimento. Mais além, o furor
de um militar falhado a vender armas nas avenidas e nas favelas do Brasil. E o
cortejo - mais caterva que desfile – continua… Por tudo isto e muito mais, a
ressaca da Meia-Noite das doze passas pôs-nos na cara a máscara de uma
indefinida depressão.
Afinal,
parece que à Terça-Feira de Ano Novo seguiu-se uma antecipada Quarta-Feira de
Cinzas. Nas ruas, nas esplanadas, no mar e em terra e, pior, no rosto das
pessoas. Mas eu não estou aí. Não! Só quero ir com quem vê nestes primeiros
dias do Ano Novo a grande rampa de lançamento, construída a pulso, para marcar
um novo rumo ou uma nova velocidade na conquista de sonhos inacabados. Retomando
o grande tiro de partida, o que é preciso é amar a vida e a ilha. E para amá-
las, só há um módulo: conhecê-las. Para 2019, seja una e plena esta palavra de
ordem: 600 anos depois, vamos realizar todos a Redescoberta da Ilha!
07.Jan.19
Martins Júnior
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