Estranho
silêncio cobriu a travessia dos “Três Reis” pelo deserto Mais denso, porém, foi
o negrume impenetrável que envolveu a sua chegada a Nazaré e a recepção na casa
onde estava o Menino. Durante quarenta e oito horas tinham desaparecido da
banda larga noticiária os três DDT, senhorios do planeta Terra.
Dado
o alarme, logo correram a Jerusalém agências, jornalistas, estações, o arsenal
informativo dos quatro cantos do mundo. Em vão. Nem rasto nem pegadas nem sinal
que fosse da passagem do poderoso trio peregrino. O Gabinete de Benjamin
Natanyahu fechou-se, sem qualquer hipótese de contacto. Os próprios moradores
também se esconderam e, pelo mexer das cortinas, viam-se lá dentro das casas vultos
furtivos a espreitar as ruas desertas. Parece que, além do silêncio, um medo
subterrâneo amarrava as pessoas às fechaduras das portas cerradas.
Mas
que mistério e que pavor teria provocado a secreta (porque não-anunciada)
visita dos três magnatas reais à pátria do reincarnado Nazareno?... Era preciso
desvendar o enigma. Mas sem sucesso.
Desiludidos,
os jornalistas preparavam-se para regressar aos locais de origem, quando lá ao
fundo da avenida avistam um transeunte, pelo traje indiciava ser rabino, que
saía da sinagoga. Caíram logo em cima do homem, tímido e de baixa estatura,
bombardearam-no com perguntas em catadupa e, de tal jaez, que viu-se obrigado a
chamá-los para um recinto esconso, não fosse alguém denunciá-lo à justiça
judaica por desobediência à “lei da rolha”, decretada nessa manhã,
Começou
assim:
“Por
coincidência, juro por Deus, estava eu
lá mesmo em Nazaré, quando à distância vi aproximar-se um enorme séquito de
cavalos, tanques de guerra, muitos soldados, que se dispunham no espaço em
frente do carpinteiro José. O medo tolheu-me os ossos, mas lembro-me que entre
os três comandantes dos blindados
levantou-se uma espécie de discussão, mas tão dura que até de longe se ouviam
trocas de palavras azedas, agressivas. Porquê?... Só captei esta imprecação de
rajada: “Eu é que sou o primeiro a entrar”, ao que o outro ripostava: “Não e
não. Sou eu, porque sou o mais importante” e o terceiro acudia: “Mereço eu o
primeiro lugar, porque venho de mais longe”.
Continuou,
depois, o velho rabino, a descrição das três comitivas em parada, mais os
respectivos equipamentos e ofertas ao Messias renascido.
“Um
deles, o mais volumoso e arrogante, juba ruiva, virada ao contrário, ostentava
cofres de dólares e o que me chamou a atenção foi um enorme dossier que parecia
mais pesado que o próprio portador. Algum megaprojecto talvez, pensei… O outro
ostentava diante do seu exército uma arma que, dizia ele, era o último grito da
arte bélica, arma invencível, com a inscrição “Kinzhal”. Um outro, ainda, de
tez asiática, fazia-se transportar num trono dourado, carregado aos ombros de
cinquenta escravos chineses que entoavam canções de guerra”.
Entretanto,
o “Rei Chino” antecipa-se e é o primeiro a bater à porta da casa de Nazaré”.
O
que então se passou, conta-se no próximo episódio.
09.Jan.19
Martins Júnior
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