quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

OS “TRÊS REIS” DO DIA SEIS, SÉCULO XXI: ESBOÇO DE NOVELA EM TRÊS EPISÓDIOS


                                                   

Estranho silêncio cobriu a travessia dos “Três Reis” pelo deserto Mais denso, porém, foi o negrume impenetrável que envolveu a sua chegada a Nazaré e a recepção na casa onde estava o Menino. Durante quarenta e oito horas tinham desaparecido da banda larga noticiária os três DDT, senhorios do planeta Terra.
Dado o alarme, logo correram a Jerusalém agências, jornalistas, estações, o arsenal informativo dos quatro cantos do mundo. Em vão. Nem rasto nem pegadas nem sinal que fosse da passagem do poderoso trio peregrino. O Gabinete de Benjamin Natanyahu fechou-se, sem qualquer hipótese de contacto. Os próprios moradores também se esconderam e, pelo mexer das cortinas, viam-se lá dentro das casas vultos furtivos a espreitar as ruas desertas. Parece que, além do silêncio, um medo subterrâneo amarrava as pessoas às fechaduras das portas cerradas.
Mas que mistério e que pavor teria provocado a secreta (porque não-anunciada) visita dos três magnatas reais à pátria do reincarnado Nazareno?... Era preciso desvendar o enigma. Mas sem sucesso.
Desiludidos, os jornalistas preparavam-se para regressar aos locais de origem, quando lá ao fundo da avenida avistam um transeunte, pelo traje indiciava ser rabino, que saía da sinagoga. Caíram logo em cima do homem, tímido e de baixa estatura, bombardearam-no com perguntas em catadupa e, de tal jaez, que viu-se obrigado a chamá-los para um recinto esconso, não fosse alguém denunciá-lo à justiça judaica por desobediência à “lei da rolha”, decretada nessa manhã,
Começou assim:
“Por coincidência, juro por Deus, estava  eu lá mesmo em Nazaré, quando à distância vi aproximar-se um enorme séquito de cavalos, tanques de guerra, muitos soldados, que se dispunham no espaço em frente do carpinteiro José. O medo tolheu-me os ossos, mas lembro-me que entre os três comandantes dos  blindados levantou-se uma espécie de discussão, mas tão dura que até de longe se ouviam trocas de palavras azedas, agressivas. Porquê?... Só captei esta imprecação de rajada: “Eu é que sou o primeiro a entrar”, ao que o outro ripostava: “Não e não. Sou eu, porque sou o mais importante” e o terceiro acudia: “Mereço eu o primeiro lugar, porque venho de mais longe”.
Continuou, depois, o velho rabino, a descrição das três comitivas em parada, mais os respectivos equipamentos e ofertas ao Messias renascido.
“Um deles, o mais volumoso e arrogante, juba ruiva, virada ao contrário, ostentava cofres de dólares e o que me chamou a atenção foi um enorme dossier que parecia mais pesado que o próprio portador. Algum megaprojecto talvez, pensei… O outro ostentava diante do seu exército uma arma que, dizia ele, era o último grito da arte bélica, arma invencível, com a inscrição “Kinzhal”. Um outro, ainda, de tez asiática, fazia-se transportar num trono dourado, carregado aos ombros de cinquenta escravos chineses que entoavam canções de guerra”.
Entretanto, o “Rei Chino” antecipa-se e é o primeiro a bater à porta da casa de Nazaré”.
O que então se passou, conta-se no próximo episódio.

 09.Jan.19
Martins Júnior  

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