Não
duvido que, nos dias que passam, outras guerras (mais que as guerras de
religiões) corroem e esventram o mundo em que vivemos. No entanto, não pode
subestimar-se a mensagem do pastor anglicano Paul Wattson que em 1908 iniciou o
Oitavário pela Unidade dos Cristãos separados entre si por diferentes
confissões religiosas, Desde então, todos
os anos, de 18 a 25 de Janeiro, um coro colossal se levanta nas igrejas
cristãs, católicas e não católica, para promover a unidade, expressa e ardentemente
desejada pelo seu Fundador. Tal como na Grande Paz Europeia, nascida da cinza e
do sangue derramado entre 39 e 45, também os promotores da Semana da Unidade,
envergonhados de tanto divisionismo e de tanto conflito, por vezes sangrento,
entre os crentes oriundos da mesma fonte – o Evangelho – decidiram dar novo
rumo aos acontecimentos, construindo plataformas comuns de entendimento e
acção.
Se há
fenómeno demais contraditório e paradoxal, esse situa-se precisamente no
âmbito (para não dizer ‘arena de gladiadores’) consignado à `religião.
Incompreensível, escandaloso e repugnante é o espectáculo de guerra aberta e
ódio programado lá onde deveria reinar uma paz solidária, indestrutível. Já vem
de longe, da práxis e da dóxis bíblicas a convicção de uma fé judaica, armada até
à medula dos ossos, tendo Deus Ihaveh
como poderoso e vingativo comandante-em-chefe do batalhão dos crentes. Os
séculos e milénios subsequentes não lhe conseguiram apagar o rasto. Pelo
contrário, bastas vezes têm-lhe seguido as pegadas. Porquê?
Em complemento das reflexões dos dias
anteriores, ajuntarei mais uma pista de análise: O ser humano, enquanto
colectivo comunitário, estará sempre dependente de específicas forças ou
entidades tutelares e, em contraste, forças e entidades dominadoras, senão
mesmo, opressoras, as quais se designam oficialmente como poderes constituídos.
De entre eles, avultam o poder político e o poder religioso. Os humanos são, portanto, clientes e
consumidores dos dois mercados mais directos e impressivos, a política e a
religião. Por esta razão evidente e necessária, os dois mercados terão de
caminhar paralelamente como sócios da mesma empresa, para que o domínio
partilhado encontre aceitação nos seus destinatários. Aí está a verificação
histórica em que religião e política viajam na mesma carruagem. Siameses congénitos,
política e religião casam-se (mesmo que se odeiem intimamente) porque para
sobreviverem uma precisa da outra. Acresce a circunstância, tantas vezes
falaciosa, de que uma trata do corpo, a
outra segura-lhe a alma.
Provada
fica, pois, a interdependência dos dois poderes, de tal forma que quando um
desfalece, acode logo o outro a deitar-lhe a mão. Onde é que nós já vimos
isso?!... Não perca tempo a pesquisar…
E
é neste nó de intersecção que começam as guerras. O poder político quer ter o
religioso sempre à ilharga, como suporte seguríssimo dos seus interesses. Quer
vê-lo nas cerimónias oficiais, nas paradas, nas capelanias militares, nos
banquetes, nas inaugurações Por sua vez, a religião abre as mãos e as sotainas
e quer ver (porque quem vê é o povo cliente e consumidor) os “senhores da terra”
aliados aos “senhores do céu”…
E
assim começam as guerras! A história é sobeja em revelar que as religiões quando
entram em guerra aberta servirem de apoio ao poder político, umas vezes publicamente
assumidas, outras subrepticiamente orquestradas. O sucesso de certas guerras
religiosas depende do ‘amparo’ político, da mesma forma que o sucesso de certas
guerras político-governamentais está na ponta do hissope ou na bênção do
estandarte.
Ficará
para o próximo dia a demonstração de alguns destes episódios de uma cabala em
que os actores serventuários nem chegam a lobrigar (ou disfarçam…) o embuste em
que caíram.
Mas
para não cairmos na visão pessimista dos acontecimentos e para provar não há
guerras estritamente de religião, termino com a notícia difundida pela
comunicação social de hoje, a propósito do Grande Encontro da Juventude no Panamá,
presidida pelo Papa Francisco; “Em virtude da dificuldade de alojamento para
tantos participantes, a sinagoga judaica e a segunda maior mesquita (muçulmana) do país ofereceram as suas instalações para
receber jovens católicos presentes nas Jornadas”.
É
o abraço de hoje e a meta do futuro. O verdadeiro crente não faz guerra, semeia
o Amor!
23.Jan.19
Martins Júnior
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