quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

A CAMINHO DA UNIDADE DESEJADA – ABRIR OS OLHOS!


                                                           

Não duvido que, nos dias que passam, outras guerras (mais que as guerras de religiões) corroem e esventram o mundo em que vivemos. No entanto, não pode subestimar-se a mensagem do pastor anglicano Paul Wattson que em 1908 iniciou o Oitavário pela Unidade dos Cristãos separados entre si por diferentes confissões religiosas, Desde então,  todos os anos, de 18 a 25 de Janeiro, um coro colossal se levanta nas igrejas cristãs, católicas e não católica, para promover a unidade, expressa e ardentemente desejada pelo seu Fundador. Tal como na Grande Paz Europeia, nascida da cinza e do sangue derramado entre 39 e 45, também os promotores da Semana da Unidade, envergonhados de tanto divisionismo e de tanto conflito, por vezes sangrento, entre os crentes oriundos da mesma fonte – o Evangelho – decidiram dar novo rumo aos acontecimentos, construindo plataformas comuns de entendimento e acção.
         Se há  fenómeno demais contraditório e paradoxal, esse situa-se precisamente no âmbito (para não dizer ‘arena de gladiadores’) consignado à `religião. Incompreensível, escandaloso e repugnante é o espectáculo de guerra aberta e ódio programado lá onde deveria reinar uma paz solidária, indestrutível. Já vem de longe, da práxis e da dóxis bíblicas a convicção de uma fé judaica, armada até à medula dos ossos, tendo  Deus Ihaveh como poderoso e vingativo comandante-em-chefe do batalhão dos crentes. Os séculos e milénios subsequentes não lhe conseguiram apagar o rasto. Pelo contrário, bastas vezes têm-lhe seguido as pegadas. Porquê?
         Em complemento das reflexões dos dias anteriores, ajuntarei mais uma pista de análise: O ser humano, enquanto colectivo comunitário, estará sempre dependente de específicas forças ou entidades tutelares e, em contraste, forças e entidades dominadoras, senão mesmo, opressoras, as quais se designam oficialmente como poderes constituídos. De entre eles, avultam o poder político e o poder religioso.  Os humanos são, portanto, clientes e consumidores dos dois mercados mais directos e impressivos, a política e a religião. Por esta razão evidente e necessária, os dois mercados terão de caminhar paralelamente como sócios da mesma empresa, para que o domínio partilhado encontre aceitação nos seus destinatários. Aí está a verificação histórica em que religião e política viajam na mesma carruagem. Siameses congénitos, política e religião casam-se (mesmo que se odeiem intimamente) porque para sobreviverem uma precisa da outra. Acresce a circunstância, tantas vezes falaciosa, de que  uma trata do corpo, a outra segura-lhe a alma.
Provada fica, pois, a interdependência dos dois poderes, de tal forma que quando um desfalece, acode logo o outro a deitar-lhe a mão. Onde é que nós já vimos isso?!... Não perca tempo a pesquisar…
E é neste nó de intersecção que começam as guerras. O poder político quer ter o religioso sempre à ilharga, como suporte seguríssimo dos seus interesses. Quer vê-lo nas cerimónias oficiais, nas paradas, nas capelanias militares, nos banquetes, nas inaugurações Por sua vez, a religião abre as mãos e as sotainas e quer ver (porque quem vê é o povo cliente e consumidor) os “senhores da terra” aliados aos “senhores do céu”…
E assim começam as guerras! A história é sobeja em revelar que as religiões quando entram em guerra aberta servirem de apoio ao poder político, umas vezes publicamente assumidas, outras subrepticiamente orquestradas. O sucesso de certas guerras religiosas depende do ‘amparo’ político, da mesma forma que o sucesso de certas guerras político-governamentais está na ponta do hissope ou na bênção do estandarte.
Ficará para o próximo dia a demonstração de alguns destes episódios de uma cabala em que os actores serventuários nem chegam a lobrigar (ou disfarçam…) o embuste em que caíram.
Mas para não cairmos na visão pessimista dos acontecimentos e para provar não há guerras estritamente de religião,  termino com a notícia difundida pela comunicação social de hoje, a propósito do Grande Encontro da Juventude no Panamá, presidida pelo Papa Francisco; “Em virtude da dificuldade de alojamento para tantos participantes, a sinagoga judaica e a segunda maior mesquita (muçulmana)  do país ofereceram as suas instalações para receber jovens católicos presentes nas Jornadas”.
É o abraço de hoje e a meta do futuro. O verdadeiro crente não faz guerra, semeia o Amor!

23.Jan.19
Martins Júnior       

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