quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

O VERDADEIRO FOGO DO NOVO ANO


                                                    

Desafinando do apreciado conjunto “Resistência” que enriqueceu o panorama musical português com o refrão  - Não, não sou o único a olhar o céu – ousei anteontem, 1º dia do ano, transpor a negativa e mudar a conclusão para o atrevido Eu sou o único a não olhar o céu, querendo com isso significar a minha recusa em deixar-me iludir com o colorido narcótico dos foguetes que estralejaram toda a abóbada planetária. Mais importante que ficar embasbacado com o fogo a pingar do céu seria olhar a terra, desbravar os tenebrosos tufos de ignorância, enfim, redescobrir valores e convicções inatas no coração e na raiz das pessoas e das sociedades.
         Em boa hora, o aparente pessimismo da minha posição veio  transformar-se numa manhã de optimismo e militância activa,  ao tomar conhecimento dos textos de duas personalidades marcantes da nossa época. Foram eles que me fizeram, felizmente, corrigir a minha afirmação inicial e alinhar com os “Resistência”: Afinal, Não, não sou o único. Não sou o único a tentar descobrir no húmus da terra o brilho de estrelas iluminantes que afastam as trevas da ignorância para podermos ver o caminho e alcançar o horizonte claro das nossas convicções.
         Cómodo e anestesiante é espojar o olhar e a mente na almofada das ilusões, das meias-palavras coloridas e ociosas, das panaceias malabares que divertem mas não resolvem. Ao contrário, requer-se muita coragem e muita energia se exige para olhar frontalmente a realidade, accionar os mecanismos da “razão pura e da razão prática” (como proclamava E.Kant) e marcar posição clara, inequívoca, iluminante.
         Foi isto mesmo que nos deram, em mensagens de Ano Novo, o Papa Francisco na Roma italiana e o bispo Nuno Almeida, na Roma portuguesa, como é conhecida a cidade de Braga.  Começando pelo bispo auxiliar da arquidiocese bracarense, sabe bem  - e louva-se-o, por isso – ouvir estas palavras em plena catedral: “É preciso exercer o direito de uma cidadania atenta, activa e criativa, contra a propaganda política profissionalmente orientada”. E não pára o bispo educador da população, vai directo à meta, abalando a consciência cívica individual e colectiva: “Não permitamos que alguns euros na reforma ou no salário comprem as nossas convicções profundas”.
         Candentes línguas de fogo purificador estas considerações, para todos os regimes políticos, mais incisivamente para os de pendência populista!
         Tão directo e radical foi o Papa Francisco no Vaticano, ao devastar o fumo fátuo dos incensos farisaicos nas igrejas, em devoções, celebrações faustosas mas estéreis, em rituais caiados de branco e mística dentro do templo,  mas visceralmente terroristas fora dele. É de ficarmos em sentido para ouvir estas libertadoras Lições de Abismo : “É MELHOR VIVER COMO ATEU DO QUE IR À IGREJA E ODIAR OS OUTROS”
Quanto de profundo e clamoroso se esconde nas linhas e entrelinhas destas brilhantes mensagens! Cabe aos seus destinatários – nós, também – interiorizar os seus conteúdos, desenvolvê-los e semearmo-los no c hão da terra que nos foi dada como inquilinos de passagem.        
No dealbar de um Ano Novo confortam-nos e dinamizam-nos estas velhas e sábias sentenças, aceites como chaves de ouro para abrirmos as portas deste incógnito mistério do ano 2019!

03.Jan.19
         Martins Júnior

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