Desafinando
do apreciado conjunto “Resistência” que enriqueceu o panorama musical português
com o refrão - Não, não sou o único a olhar o céu – ousei anteontem, 1º dia do
ano, transpor a negativa e mudar a
conclusão para o atrevido Eu sou o único
a não olhar o céu, querendo com isso significar a minha recusa em deixar-me
iludir com o colorido narcótico dos foguetes que estralejaram toda a abóbada
planetária. Mais importante que ficar embasbacado com o fogo a pingar do céu
seria olhar a terra, desbravar os tenebrosos tufos de ignorância, enfim, redescobrir
valores e convicções inatas no coração e na raiz das pessoas e das sociedades.
Em boa hora, o aparente pessimismo da
minha posição veio transformar-se numa
manhã de optimismo e militância activa,
ao tomar conhecimento dos textos de duas personalidades marcantes da
nossa época. Foram eles que me fizeram, felizmente, corrigir a minha afirmação
inicial e alinhar com os “Resistência”: Afinal, Não, não sou o único. Não sou o único a tentar descobrir no húmus da
terra o brilho de estrelas iluminantes que afastam as trevas da ignorância para
podermos ver o caminho e alcançar o horizonte claro das nossas convicções.
Cómodo e anestesiante é espojar o olhar
e a mente na almofada das ilusões, das meias-palavras coloridas e ociosas, das
panaceias malabares que divertem mas não resolvem. Ao contrário, requer-se
muita coragem e muita energia se exige para olhar frontalmente a realidade, accionar
os mecanismos da “razão pura e da razão prática” (como proclamava E.Kant) e
marcar posição clara, inequívoca, iluminante.
Foi isto mesmo que nos deram, em
mensagens de Ano Novo, o Papa Francisco na Roma italiana e o bispo Nuno
Almeida, na Roma portuguesa, como é conhecida a cidade de Braga. Começando pelo bispo auxiliar da arquidiocese
bracarense, sabe bem - e louva-se-o, por
isso – ouvir estas palavras em plena catedral: “É preciso exercer o direito de
uma cidadania atenta, activa e criativa, contra a propaganda política
profissionalmente orientada”. E não pára o bispo educador da população, vai
directo à meta, abalando a consciência cívica individual e colectiva: “Não
permitamos que alguns euros na reforma ou no salário comprem as nossas
convicções profundas”.
Candentes línguas de fogo purificador estas
considerações, para todos os regimes políticos, mais incisivamente para os de
pendência populista!
Tão
directo e radical foi o Papa Francisco no Vaticano, ao devastar o fumo fátuo
dos incensos farisaicos nas igrejas, em devoções, celebrações faustosas mas
estéreis, em rituais caiados de branco e mística dentro do templo, mas visceralmente terroristas fora dele. É de
ficarmos em sentido para ouvir estas libertadoras Lições de Abismo : “É
MELHOR VIVER COMO ATEU DO QUE IR À IGREJA E ODIAR OS OUTROS”
Quanto
de profundo e clamoroso se esconde nas linhas e entrelinhas destas brilhantes
mensagens! Cabe aos seus destinatários – nós, também – interiorizar os seus
conteúdos, desenvolvê-los e semearmo-los no c hão da terra que nos foi dada
como inquilinos de passagem.
No
dealbar de um Ano Novo confortam-nos e dinamizam-nos estas velhas e sábias
sentenças, aceites como chaves de ouro para abrirmos as portas deste incógnito
mistério do ano 2019!
03.Jan.19
Martins Júnior
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