sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

DO PANAMÁ PARA O MUNDO – A BANDEIRA DA UNIDADE


                                                            

        Perante o espectáculo apoteótico hoje vivido e, para nós, patenteado a partir do Panamá, parece não haver lugar para a exposição da manta de retalhos ensopada em sangue, que é o estendal das guerras religiosas ao lingo da história. A presença de Francisco Papa entre milhares de jovens de todo o mundo e de todas as bandeiras num abraço universal da paz e da concórdia faz esquecer todos os dramas e tragédias em que se envolveram as religiões. Por outro lado, é hoje que as comunidades cristãs encerram o Oitavário da Unidade. Por isso, tem já cabimento lógico evocar esse interminável percurso das diversas crenças para trazê-las ao encontro do vértice único e necessário e, tomando a letra da canção, “dizer-lhes cara-a-cara: muito mais é o que as une que aquilo que as separa”.
         Estão as religiões institucionais (não a religião) colocadas em hasta pública à mercê de quem as leve (a alto ou baixo-custo) ou de quem as force a entrar nos submarinos do poder, para servir umas vezes de lastro seguro, outras de bandeira fascinante de causas e reinos alheios, senão mesmo hostis à sua missão salvífica. E quando as religiões se recusam a entrar na dança dos poderes, então podem contar com o garrote e o massacre armadilhados pelos poderosos.
Provas abundam por toda a parte e em todo o tempo, desde os imperadores romanos que assassinaram milhares de mártires, porque  viam na ideologia dos escravos cristãos o fermento revolucionário de uma sociedade igualitária em direitos e deveres. Mais tarde, no fulgor incontrolado das “Cruzadas”  a ambição desmedida dos nobres cavaleiros em alargar o domínio territorial, sob pretexto de libertar os “Lugares Santos”, achou a paga no rotundo fracasso que lhes foi infligido. A chamada gesta colonial dos países europeus metia no porão das naus franciscanos e jesuítas que, sob a apostólica mística de espalhar a Fé, mais não faziam, no fundo, que alimentar a ganância do Império, ao serviço do poder imperial e da economia reinante. No mesmo ponto de mira assentaram a Igreja Anglicana, em Londres, a Igreja Galicana, em Paris, dominadas pelos poderosos. O mesmo padrão jurídico-religiosos é o que vegeta na Igreja Ortodoxa Russa e na Igreja Oficial Chinesa, onde as hierarquias religiosas são nomeadas, não por Roma, mas pela cúpula governativa dos respectivos países. Não falta nada e já chegámos a Portugal e à Madeira, “Terras de Santa Maria” , onde os políticos  encontraram serventuários seguros a baixo-custo, prontos a todas as arbitrariedades do poder vigente, sob pena de prisão ou ostracismo.
Sempre que as religiões se enfeudam aos poderes do mundo atraiçoam o seu ideário constituinte e alistam-se, por consequência, no quartel dos adidos, prontos a ser mobilizados para as guerras, onde religião, capital e ganância religiosamente se misturam. Jamais acabará esta satânica promiscuidade enquanto o Papa de Roma (um dia há-de sê-lo!) não renunciar ao estatuto de Chefe de Estado desse minúsculo terreiro chamado Vaticano. A nossa religião deveria caminhar denodadamente na vanguarda desta campanha para a Paz Universal.
No dia da Conversão de Saulo, fanático praticante do Judaísmo, à causa do Evangelho do Cristo que ele perseguia ferozmente, encerro as reflexões reproduzidas nesta Semana do Oitavário para a Unidade, saudando os esforços de Francisco Papa na marcha da história, bem como de todos quantos contribuem para o derrube dos muros  que a cegueira de alguns, os poderosos, pretendem levantar à livre circulação de todos.

25.Jan.19
Martins Júnior    

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