Perante
o espectáculo apoteótico hoje vivido e, para nós, patenteado a partir do
Panamá, parece não haver lugar para a exposição da manta de retalhos ensopada
em sangue, que é o estendal das guerras religiosas ao lingo da história. A
presença de Francisco Papa entre milhares de jovens de todo o mundo e de todas
as bandeiras num abraço universal da paz e da concórdia faz esquecer todos os
dramas e tragédias em que se envolveram as religiões. Por outro lado, é hoje
que as comunidades cristãs encerram o Oitavário da Unidade. Por isso, tem já
cabimento lógico evocar esse interminável percurso das diversas crenças para
trazê-las ao encontro do vértice único e necessário e, tomando a letra da
canção, “dizer-lhes cara-a-cara: muito mais é o que as une que aquilo que as separa”.
Estão as religiões institucionais (não
a religião) colocadas em hasta pública à mercê de quem as leve (a alto ou baixo-custo)
ou de quem as force a entrar nos submarinos do poder, para servir umas vezes de
lastro seguro, outras de bandeira fascinante de causas e reinos alheios, senão
mesmo hostis à sua missão salvífica. E quando as religiões se recusam a entrar
na dança dos poderes, então podem contar com o garrote e o massacre
armadilhados pelos poderosos.
Provas
abundam por toda a parte e em todo o tempo, desde os imperadores romanos que
assassinaram milhares de mártires, porque viam na ideologia dos escravos cristãos o
fermento revolucionário de uma sociedade igualitária em direitos e deveres.
Mais tarde, no fulgor incontrolado das “Cruzadas” a ambição desmedida dos nobres cavaleiros em
alargar o domínio territorial, sob pretexto de libertar os “Lugares Santos”,
achou a paga no rotundo fracasso que lhes foi infligido. A chamada gesta
colonial dos países europeus metia no porão das naus franciscanos e jesuítas que,
sob a apostólica mística de espalhar a Fé, mais não faziam, no fundo, que
alimentar a ganância do Império, ao serviço do poder imperial e da economia
reinante. No mesmo ponto de mira assentaram a Igreja Anglicana, em Londres, a
Igreja Galicana, em Paris, dominadas pelos poderosos. O mesmo padrão jurídico-religiosos
é o que vegeta na Igreja Ortodoxa Russa e na Igreja Oficial Chinesa, onde as
hierarquias religiosas são nomeadas, não por Roma, mas pela cúpula governativa
dos respectivos países. Não falta nada e já chegámos a Portugal e à Madeira, “Terras
de Santa Maria” , onde os políticos encontraram
serventuários seguros a baixo-custo, prontos a todas as arbitrariedades do
poder vigente, sob pena de prisão ou ostracismo.
Sempre
que as religiões se enfeudam aos poderes do mundo atraiçoam o seu ideário
constituinte e alistam-se, por consequência, no quartel dos adidos, prontos a
ser mobilizados para as guerras, onde religião, capital e ganância
religiosamente se misturam. Jamais acabará esta satânica promiscuidade enquanto
o Papa de Roma (um dia há-de sê-lo!) não renunciar ao estatuto de Chefe de
Estado desse minúsculo terreiro chamado Vaticano. A nossa religião deveria
caminhar denodadamente na vanguarda desta campanha para a Paz Universal.
No
dia da Conversão de Saulo, fanático praticante do Judaísmo, à causa do Evangelho
do Cristo que ele perseguia ferozmente, encerro as reflexões reproduzidas nesta
Semana do Oitavário para a Unidade, saudando os esforços de Francisco Papa na
marcha da história, bem como de todos quantos contribuem para o derrube dos
muros que a cegueira de alguns, os
poderosos, pretendem levantar à livre circulação de todos.
25.Jan.19
Martins Júnior
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