quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

OS “BREXIT” DE HOJE E OS AMANHÃS QUE CHORAM…


                                                       

Não fora o episódio rocambolesco de um grande partido, ‘partido a retalho’ na praça pública, hoje só figuraria no epicentro da Europa e do Mundo o fenómeno (que alguém já chamou “trágico”) do Brexit. São incalculáveis as repercussões que daí advirão para a economia, para o turismo, emigração e, sobretudo, para a pacificação desta “Casa Comum” que nos dada como habitação efémera. Comentadores dizem que, desde a crise do Canal Suez em 1956, este é um dos capítulos mais delicados da história da Grã-Bretanha, em risco de desintegrar-se.
O que, porém, me fez fixar o olhar neste escuro alvorecer do ano 2019 consiste numa prospecção imediata dos factores crono-ideológicos que desembocaram nesta perigosa encruzilhada. Desde os primórdios da entrada do Reino Unido no círculo de uma Europa unida, a sombra do Brexit pairou nos sombrios ares britânicos como arma de arremesso político-partidário.  Um dos marcos mais representativos aconteceu em  1975, em que perdeu o Brexit, passando mais tarde, em 1983, pela deriva de Tony Blair que advogava a saída da CEE (hoje é o maior defensor da integração) até chegarmos a David Cameron que, em 2013, por questões de supremacia partidária, comprometeu-se a realizar o dito referendo, se o seu partido conservador vencesse maioritariamente as eleições.
Que pretendo eu concluir da aproximação destes dois acontecimentos: a leviandade grosseira do líder partidário Cameron e a iminente desintegração do Reino (des)Unido e da própria Europa?
A conclusão não é de hoje nem de ontem, vem do fundo da história e da mais genuína análise filosófica: um pequeno desvio inicial leva inevitavelmente a um monstruoso desfecho final. Por outras palavras e mais directas aos factos: as decisões de um chefe – líder político, social ou religioso – assumem consequências desmedidas no futuro da sociedade que hoje dirige. Mais grave e temerário quando não é ele, o líder decisor, mas outrem quem pagará a factura de leviandades e teimosias já passadas. David Cameron decidiu, mas saiu de cena. Quem assume as consequência? Teresa May, os britânicos, os europeus, nós todos!
Poderia trazer (mas há já abundante literatura nessa matéria) casos flagrantes de regimes autocráticos, cujos chefes-ditadores mancharam de sangue e terror décadas, senão séculos, da história humana…
Permitam-me nesta breve reflexão – já que entramos na Semana do Oitavário pela Unidade das Igrejas Cristãs, de 18 a 25 de Janeiro de cada ano – permitam-me aduzir dois terramotos que abalaram séculos e crenças, protagonizados pelos Papas de Roma que arbitrariamente excomungaram dois grandes líderes religiosos – Miguel Cerulário, Patriarca de Constantinopla, que em consequência da excomunhão rompeu com o Vaticano, fundando a Igreja Ortodoxa, desde 1054 separada de Roma, até hoje. Lutero (1483-1546)  pelos mesmos motivos, erigiu o Protestantismo como religião autónoma, dando origem a centenas de religiões cristãs não católicas.
É uma vertigem inata à prepotência humana a tentação cega de dominar e manietar não só os súbditos sob a sua alçada mas até as populações vindouras, através de atitudes e leis draconianas. Compete, pois, ao cidadão comum opor-se a tamanhas leviandades de circunstância, mas de incalculáveis tragédias futuras. A luta de hoje é semente de felicidade para os habitantes do amanhã.

17.Jan.19
Martins Júnior
    


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