Não
fora o episódio rocambolesco de um grande partido, ‘partido a retalho’ na praça
pública, hoje só figuraria no epicentro da Europa e do Mundo o fenómeno (que
alguém já chamou “trágico”) do Brexit.
São incalculáveis as repercussões que daí advirão para a economia, para o
turismo, emigração e, sobretudo, para a pacificação desta “Casa Comum” que nos
dada como habitação efémera. Comentadores dizem que, desde a crise do Canal
Suez em 1956, este é um dos capítulos mais delicados da história da Grã-Bretanha,
em risco de desintegrar-se.
O
que, porém, me fez fixar o olhar neste escuro alvorecer do ano 2019 consiste
numa prospecção imediata dos factores crono-ideológicos que desembocaram nesta
perigosa encruzilhada. Desde os primórdios da entrada do Reino Unido no círculo
de uma Europa unida, a sombra do Brexit pairou
nos sombrios ares britânicos como arma de arremesso político-partidário. Um dos marcos mais representativos aconteceu
em 1975, em que perdeu o Brexit, passando mais tarde, em 1983,
pela deriva de Tony Blair que advogava a saída da CEE (hoje é o maior defensor
da integração) até chegarmos a David Cameron que, em 2013, por questões de
supremacia partidária, comprometeu-se a realizar o dito referendo, se o seu
partido conservador vencesse maioritariamente as eleições.
Que
pretendo eu concluir da aproximação destes dois acontecimentos: a leviandade
grosseira do líder partidário Cameron e a iminente desintegração do Reino
(des)Unido e da própria Europa?
A
conclusão não é de hoje nem de ontem, vem do fundo da história e da mais
genuína análise filosófica: um pequeno
desvio inicial leva inevitavelmente a um monstruoso desfecho final. Por
outras palavras e mais directas aos factos: as decisões de um chefe – líder político,
social ou religioso – assumem consequências desmedidas no futuro da sociedade
que hoje dirige. Mais grave e temerário quando não é ele, o líder decisor, mas
outrem quem pagará a factura de leviandades e teimosias já passadas. David
Cameron decidiu, mas saiu de cena. Quem assume as consequência? Teresa May, os
britânicos, os europeus, nós todos!
Poderia
trazer (mas há já abundante literatura nessa matéria) casos flagrantes de
regimes autocráticos, cujos chefes-ditadores mancharam de sangue e terror
décadas, senão séculos, da história humana…
Permitam-me
nesta breve reflexão – já que entramos na Semana do Oitavário pela Unidade das
Igrejas Cristãs, de 18 a 25 de Janeiro de cada ano – permitam-me aduzir dois
terramotos que abalaram séculos e crenças, protagonizados pelos Papas de Roma
que arbitrariamente excomungaram dois grandes líderes religiosos – Miguel Cerulário,
Patriarca de Constantinopla, que em consequência da excomunhão rompeu com o
Vaticano, fundando a Igreja Ortodoxa, desde 1054 separada de Roma, até hoje. Lutero
(1483-1546) pelos mesmos motivos, erigiu
o Protestantismo como religião autónoma, dando origem a centenas de religiões
cristãs não católicas.
É
uma vertigem inata à prepotência humana a tentação cega de dominar e manietar
não só os súbditos sob a sua alçada mas até as populações vindouras, através de
atitudes e leis draconianas. Compete, pois, ao cidadão comum opor-se a tamanhas
leviandades de circunstância, mas de incalculáveis tragédias futuras. A luta de
hoje é semente de felicidade para os habitantes do amanhã.
17.Jan.19
Martins Júnior
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