domingo, 29 de janeiro de 2023

A FRAQUEZA QUE VENCE A FORÇA!

                                                                              


Não é uma bomba, bem ao contrário. Mas tem o efeito de uma alterosa mutação climática, semelhável a um abalo sísmico que fará ruir o mundo velho e dele emergir um mundo novo, Refiro-me aos textos que nos são oferecidos neste fim de semana, através do LIVRO, uma práxis a que hoje pretendo regressar.

         O que está em jogo, desde os fundos da história, é o confronto entre o aparente e o real, entre a autenticidade dos valores e a sua deformação empolada pela razão da força, contrariamente à força da razão. De um lado – e é esse o império que domina o nosso mundo, o mundo velho – está o poder, que toma a couraça da força bruta, do armamento, a capacidade de esmagar o mais fraco, associando-se-lhe a potência do dinheiro, a opulência do ter, instrumento da venalidade, da escravatura, a todos os níveis. Friso: o mundo velho, fermento e pântano da espectacularidade vazia, enfim, a lei do mais forte, a lei da selva. Do outro lado, o esforço redobrado que produz o talento, a eficiência, o verdadeiro ouro social, extraído das raízes do silêncio, fabricado na oficina da adversidade, quase da impotência total! É o mundo novo que a geração dos fracos, filhos de um povo ignorado, ostracizado, persistentemente vai construindo. Até chegar a vitória dos escravos sobre os senhorios do poder! A história não desmente, antes confirma-o à saciedade.  

         Mais expressivo e garantido que tudo o que escrevo é ler Sofonias, Paulo de Tarso e Mateus.

         Em síntese: Deixarei ficar entre vós apenas um povo modesto e humilde… que não voltará a praticar injustiças nem proferir mentiras e, por isso, achará alimento e paz (Sofonias,2, 3, 3-11).  Entre vós, não há muitos sábios, segundo o mundo; não há poderosos, influentes ou bem-nascidos. Mas Deus escolheu o que é louco, aos olhos do mundo, para confundir os sábios; escolheu o que é fraco para vencer o forte e o que é desprezível e nada vale para reduzir a nada o que vale. (I Coríntios, 26-31). Bem-aventurados, felizes os pobres em espírito… os humildes… os que sofrem por amor da justiça,.. os pacíficos…(Mateus, 5, 1-12).

         Hoje é o elogio dos mais fracos, mas produtivos: dos mais marginalizados, mas trabalhadores eficientes; dos pequeninos .- os pequeninos que hoje subiram à tribuna para fazer a leitura dos textos a toda a assembleia presente..

         Hoje, o dia de fazer uma retrospectiva sobre o passado de um Povo que foi abandonado e até proscrito, vilipendiado durante décadas (e séculos anteriores) pelos senhorios e, mais recentemente) pelos poderosos da governação política e religiosa - o Povo da Ribeira Seca - um Povo fraco, pobre, humilde. Mas foi este Povo que venceu a prepotência de generais e brigadeiros, governantes, comandantes da polícia, bispos (Santana, Teodoro, Carrilho) todos os que, a ferro e fogo, com água benta e imagens, pretenderam dominar ou fechar a modesta igreja, a mesma que se apresenta actualmente limpa, saudável, convidativa, reflexiva, física e espiritualmente operacional.    Mais importante, porém, não é o acervo material chamado igreja. O mais importante e decisivo é a escala de valores – os valores humanos e cristãos, o único ADN que distingue os construtores de um mundo novo. Sendo o Dia dos Fracos, o Elogio dos Pequeninos, é também a hora de inscrever no topo dos valores essenciais o pensamento de Teilhard de Chardin:

Somente o amor é capaz de unir os seres vivos de modo a completá-los e a preenchê-los, pois apenas ele os toma e os une pelo que há de mais profundo em si mesmos.

 

29.Jan.23

Martins Júnior

        

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