‘Quer
de noite, quer de dia, quer à hora do meio-dia’… por aí deambulam os reis
imaginários, alienando por momentos a sua condição de súbditos, donos de um
ceptro feito rajão e de uma coroa real na sua voz soberana.
‘É
do dia cinco para o dia seis’…
Outros
cantares, porém, bateram-me à porta e pediram que os acompanhasse. Era o cantar
das ‘escravas’ em vida, mas que, como a inditosa Inês, depois de mortas são agora as nossas
‘rainhas’: a Senhora Roza (escrita original) de 93 anos, feitos no mesmo dia em
que morreu e foi hoje a sepultar. Na mesma data, a Senhora Maria, 95 anos, que
terá amanhã o seu cortejo triunfal. Triunfal – apraz-me repetir, porque quem
compôs durante 93 ou 95 anos o Livro de Ouro de uma “Missão Cumprida” outro
adeus não achará senão a estrada real, ascensional, das rainhas, ainda que em
caixão de pinho ‘escoltado’ por corações acesos de familiares e vizinhos.
Mais
longe, um rei coroado pelos homens, 95 anos, diz também adeus a um trono que já
havia abandonado em vida. Altas ameias, colunas marmóreas, salomónicas,
festival de túnicas-escarlate brilhantes ao sol da praça, acordes angelicais de
um outro mundo, enfim, centenas de milhares de admiradores e passantes, com os
maiorais nacionais e estrangeiros na vanguarda oficial – assim se alcandorou o
‘sétimo-céu’ no mundo, onde o rei, futuro santo, esperará a “coroa imarcescível
de glória” que lhe está reservada no Grande Dia, como a Paulo de Tarso.
As
nossas ‘rainhas’ ficam curtindo as cinzas num estreito cubículo de sete palmos,
o seu apartamento, comum a todos os mortais. Flores singelas dos seus jardins
serão o lençol de ano novo que as
cobrirá.
Fechado
o ‘portão’ de jaspe sobre o rei de longe e passada definitivamente a cortina de
ar puro que encerra o seu ‘apartamento’, ninguém mais sabe dizer a geografia
além-túmulo que ele e elas terão de percorrer… É a indecifrável incógnita que
os torna iguais aos nossos olhos, como iguais serão o amor e a saudade que nos
restam.
Um
traço viscoso, porém, manchou o chão sagrado daquela Petrina Praça. Foi o
mitrado purpurado de Moscovo, abusivamente ali presente. Porque, enquanto a
missão do homenageado foi toda a vida um abraço galvanizador para a Paz, as
mãos avermelhadas do intruso moscovita persistem em abençoar as armas que matam
e os tanques que ‘afogam+ vidas inocentes.
Enfim,
dissonâncias de um outro cantar dos Reis…
Que
fiquem connosco as Três Estrelas redivivas. As miríades de estrelas que este mundo tem!
5.Jan.23
Martins Júnior
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