quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

ONDE SE FALA DE REIS E RAINHAS, CANTARES TRIUNFAIS E DISSONÂNCIAS FATAIS

                                                                            


‘Quer de noite, quer de dia, quer à hora do meio-dia’… por aí deambulam os reis imaginários, alienando por momentos a sua condição de súbditos, donos de um ceptro feito rajão e de uma coroa real na sua voz soberana.

‘É do dia cinco para o dia seis’…

Outros cantares, porém, bateram-me à porta e pediram que os acompanhasse. Era o cantar das ‘escravas’ em vida, mas que, como a inditosa Inês,  depois de mortas são agora as nossas ‘rainhas’: a Senhora Roza (escrita original) de 93 anos, feitos no mesmo dia em que morreu e foi hoje a sepultar. Na mesma data, a Senhora Maria, 95 anos, que terá amanhã o seu cortejo triunfal. Triunfal – apraz-me repetir, porque quem compôs durante 93 ou 95 anos o Livro de Ouro de uma “Missão Cumprida” outro adeus não achará senão a estrada real, ascensional, das rainhas, ainda que em caixão de pinho ‘escoltado’ por corações acesos de familiares e vizinhos.

Mais longe, um rei coroado pelos homens, 95 anos, diz também adeus a um trono que já havia abandonado em vida. Altas ameias, colunas marmóreas, salomónicas, festival de túnicas-escarlate brilhantes ao sol da praça, acordes angelicais de um outro mundo, enfim, centenas de milhares de admiradores e passantes, com os maiorais nacionais e estrangeiros na vanguarda oficial – assim se alcandorou o ‘sétimo-céu’ no mundo, onde o rei, futuro santo, esperará a “coroa imarcescível de glória” que lhe está reservada no Grande Dia, como a Paulo de Tarso.

As nossas ‘rainhas’ ficam curtindo as cinzas num estreito cubículo de sete palmos, o seu apartamento, comum a todos os mortais. Flores singelas dos seus jardins serão o lençol de ano novo  que as cobrirá.

Fechado o ‘portão’ de jaspe sobre o rei de longe e passada definitivamente a cortina de ar puro que encerra o seu ‘apartamento’, ninguém mais sabe dizer a geografia além-túmulo que ele e elas terão de percorrer… É a indecifrável incógnita que os torna iguais aos nossos olhos, como iguais serão o amor e a saudade que nos restam.

Um traço viscoso, porém, manchou o chão sagrado daquela Petrina Praça. Foi o mitrado purpurado de Moscovo, abusivamente ali presente. Porque, enquanto a missão do homenageado foi toda a vida um abraço galvanizador para a Paz, as mãos avermelhadas do intruso moscovita persistem em abençoar as armas que matam e os tanques que ‘afogam+ vidas inocentes.

Enfim, dissonâncias de um outro  cantar dos Reis…

Que fiquem connosco as Três Estrelas redivivas. As miríades  de estrelas que este mundo tem!

 

5.Jan.23

Martins Júnior

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