terça-feira, 3 de janeiro de 2023

“PÓ CAÍDO, PÓ ERGUIDO” x 2 !

                                                                            


                                                          



     Raras vezes, como agora, o mundo montou palco para aí fazer representar, na grande ribalta, o zénite e o nadir da espécie humana, colocando em cena epifenómenos contraditórios, personagens diametralmente opostas e, ao mesmo tempo, singularmente idênticas no que têm de mais estrutural e sensível, tudo uma conjuntura que nos faz ampliar o “Grande Teatro do Mundo” de Pedro Calderon de La Barca.

Aí estão os epifenómenos do Natal e Ano Novo, com o furor das intempéries perto e longe, a que se junta a barbárie da humana ferocidade bélica.

Mas o desconcerto que melhor define a época é-nos fornecido, ao mais alto nível, pelo êxodo forçado de dois ídolos monumentais da nossa história contemporânea, cada um em seu trono diverso:  Joseph Ratzinger (Bento XVI) e Edson Arantes Nascimento (Pelé). A coincidência cronológica, a exposição pública, os rituais diferentes no aparato mas iguais na atmosfera envolvente, o desfile das multidões e as centenas de jornalistas presentes, todo um cenário que inspira um mausoléu perfeito e até nos faz imaginar que os dois ‘Réis’ vão a sepultar na mesma urna da fraternidade humana.

Mas outra aura convergente fala mais alto e agrega num mesmo tronco os dois nobres passageiros da ‘barca de Caronte’ – precisamente os que ficam no seu lugar, após o adeus final, as mãos que lhes ‘fecharam os olhos’  e agora transportam todo o brilho da sua herança no cortejo dos vivos– Francisco Papa e Lula Presidente.

Faria eu bem melhor se apagasse tudo o que escrevi acima e chamasse de novo o “Príncipe da Língua Portuguesa”, ilustre filho do Brasil, Padre António Vieira, para definir tão excelsa simbiose:

“Pó caído, Pó erguido”!

Ratzinger e Pelé – Pó caído!... Francisco e Lula – Pó erguido!...

Os dois ‘caídos’ - e com missão cumprida.

Os dois ‘erguidos’ - e com missão continuada, também estes provisórios até um dia.

Enfim, a efémera e gloriosa condição humana. A nossa!

À consideração pessoal e intransmissível.

 

03.Jan.23

Martins Júnior   

 

     

  

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