Ciclicamente
e mais uma vez, a Mátria parturiente deu à luz um príncipe, o quinto do novo
casamento de 1974. Príncipe, enquanto principal, porque a Mãe-Mátria, sendo
republicana, não põe cá fora um produto monárquico.
Desta vez, foram dez gémeos que mais de
quatro milhões ajudaram à gestação, sendo
que só um viu a luz de Belém. Os outros nove ficaram no rol dos nascituros perpétuos.
E porque foram tantos os progenitores, seria esclarecedor analisar a ecografia de
cada um dos gémeos no próprio seio materno.
Permitam-me esta alegoria encadeada
para melhor entender a sua génese, agregando-os em linha. Assim por ser de
natureza lampa o sémen ainda prematuro tentou romper o vestíbulo da vida mas
não tinha consistência que lhe valesse. Ficaram no livro dos nados-mortos: Jorge
Sequeira e Cândido Ferreira.
Os
gâmetas mais sensíveis aos carinhos de mulher juntaram-se em Marisa Matias e
Maria de Belém, embora com preferência para a pele macia e o brilho que só a
juventude transmite.
Nos
genes em que o atavismo telúrico falou mais alto irmanaram Edgar Silva e
Vitorino da Silva que nas suas terras de origem bateram recordes, um na
Madeira, o outro em Rans.
Mais
maduros não para entrar nos corsos carnavalescos (o povo gosta disso) mas para
sacudir os vernizes que escondem a podridão dos foliões, DDT, donos disto tudo,
a esses corajosos nascituros a Mátria-Madrasta nem lhes deu hipótese de largar
o cordão umbilical. Henrique Neto, Paulo Morais, Edgar Silva morreram no parto.
Marcelo
e Tino (como os estremos se tocam!) receberam os gâmetas dos que se contentam
com jaquinzinhos comidos à mão, os bróculos
da feira, a pá do forno (põe a pá, tira a pá do forno da padaria, à moda de
Quim Barreiros) mais um copo de vinho talhado, na Madeira foi uma poncha – e o
povo comove-se, ri e chora de afecto. Ideias, nada. Os dois saíram vencedores,
embora disformes um do outro na proveniência social e cultural. Claro que
nado-vivo agarrou-se à alcova do papel diário e dos écrans que o profetizaram e
o trouxeram nos braços. Mais ainda: pegou-se, com redobradas juras de amor, ao
suposto adversário sediado em São Bento. O Papa também lhe acudiu à boca com a
unção baptismal. Por onde se vê que nascer não custa. Custa é saber viver.
Herdeiro
de outra árvore genealógica independente prenhe de cultura seriedade,
pensamento positivo precursor de um
tempo novo, Sampaio da Novoa, não logrou
a luz do dia porque a Mátria preferiu a marmita, a pá do forno, o folclore que anestesia e diverte.
Da
leitura global da campanha: Ideias, planos, compromissos do
futuro “príncipe” perante o país, no estatuto que lhe é conferido – zero! Por
isso mais de metade dos genes da nação deu o fora e não entrou no circo da
feira. Lamentavelmente, porque assim fazem gerar, com a abstenção, os produtos
de consumo imediato, descartável de cinco em cinco anos.
Sendo
certo que o fenómeno eleitoral, espelhando a personalidade individual dos candidatos, não é menos certo que
ele significa o espelho do colectivo nacional.
É a radiografia da Nação. Reflexão imperiosa para todo um povo, a começar pelos
que se apresentam como pais e tutores, dirigentes, partidos, associações, clubes, religiões,
sindicatos, escolas, nunca esquecendo que neste tablado imenso e vário nunca
acabará a dialéctica de opções, interesses e ambições, umas gémeas, outras contraditórias.
Expressamente
para as hostes partidárias de bom gosto e bom senso, ouso formular a pergunta:
De quantas camisolas diversas e luvas exclusivistas precisa a mão segura para
erguer e prestigiar a bandeira nacional?
No
entanto, acabada a vindima e consumado o parto a história continua. Faltam
cinco anos para que a Mãe-Mátria deite de novo ao mundo dos portugueses o seu
filho principal que lhe traga a mais luminosa estrela de Belém e que regresse
às origens aquela canção que nos pertence:
“ O Povo é Quem mais Ordena”!
“ O Povo é Quem mais Ordena”!
25.Jan.16
Martins Junior
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