Puxar
do saco estes grãos de esperança a abrir um tempo novo, recorro àqueles
programas de agricultura que prescrevem a primeira poda das árvores nos fins de
janeiro princípios de fevereiro, tendo por objectivo uma floração consistente,
promissora de uma viçosa produção. É também este o percurso de todo o gesto que
sai da mão humana: cobrir de verde a paisagem por onde circula a seiva da
alegria e do progresso.
Neste
curso da vida que desagua em delta entre janeiro e fevereiro – e em tempo de acalmia eleitoral – semeio ao
vento que passa um par de cravos mensageiros da liberdade e da paz, plantados
em dois continentes tão diversos, mas que abraçam todo o mundo. Quando digo
continentes tão diversos quero significar não apenas a distancia geográfica mas
a própria natureza sócio-ideológica onde fluíram os cravos: a politica e a
religião, os dois secretos canais por onde correm os motores fatais do capitalismo financeiro.
Refiro-me,
primeiramente, ao encontro de credos que deixaram na história europeia sequelas
sangrentas ainda por sarar: o catolicismo e o judaísmo. O abraço entre o Papa
Francisco e o Rabino de Roma apaga o rasto criminoso que o Vaticano deixou no
dorso e nos genes do “pérfido” (assim foi classificado) povo judeu. O próprio local do encontro não é menos eloquente: a sinagoga de Roma. Foi Francisco que
lhe deu o primeiro passo. Desceu do trono “imperial”, abandonou a tríplice tiara
do poder e, no modesto traje de branco e como um franciscano descalço,
selaram os dois uma aliança que redime séculos de tortura e cumpre o avisado imperativo
do maior teólogo do nosso tempo, Hans Kung: “Não haverá paz entre as nações
enquanto não houver paz entre as religiões”.
Ditosas
mãos que abrem cortinas de luz por sobre os tenebrosos paióis das crenças, mormente sobre aqueles que matam
“em nome de Deus”. É este um tempo novo!
Longe da Europa, já em terras armadilhadas
de ódios fratricidas parece ter chegado o sopro da paz judaico-romana. E eis que
surge, alto e brilhante, o cravo da esperança, através do acordo que extinguirá medos e fantasmas que não
deixam dormir em paz crianças, adultos e idosos. O compromisso firmado pelo
irão sobre o uso de armas nucleares
constitui uma porta aberta para aquele mundo, onde outrora fora o Paraíso terreal
e hoje reproduz o chão do assassínio Caim, ensopado ainda no sangue do irmão
Abel – do irmão Iraque, da irmã Síria, do irmão Afeganistão.
Aplaudamos e congratulemo-nos com a
alvorada que desponta.
Europa, Israel, Irão, Estados Unidos, eis a quadratura
exemplar, ao menos nestes acordos oásis no deserto e caminho para um tempo
novo! No meio da tormenta que nos cerca, seja pronta a nossa parte, respiremos
o ar puro da Vida que janeiro nascente prenuncia e generosamente oferece.
23.Jan.16
Martins Júnior
Martins Júnior
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