Sentemo-nos
lado a lado. Ou se preferir, deambulemos sob alameda das memórias que trazem
consigo momentos felizes e também pistas de reflexão. É que, ao dedilhar as
teclas deste meu e seu comunicador, dei comigo a pensar nas 238 publicações do SENSO&CONSENSO, surgindo-se logo
este puxão de orelhas: “tens a certeza de que os teus assuntos interessam às
pessoas”? Com isto deixei cair os braços
e soltou-se-me estoutra pergunta: ”escreves para ti ou para os outros?
E conheces tu o que os outros esperam que lhes transmitas”?
Parafraseando
o velho ditado, escrever não custa. Custa é tocar o dentro de quem lê, a sua mente e a sua psique, a sua
expectativa e as suas apetências. É o drama de quem escreve. Sobretudo este portentoso
mecanismo de comunicar à distância, como bolas de sabão sopradas à brisa corrente. E é
o que hoje vou ensaiar perante os meus amigos e amigas, dependurando no
estendal desta varanda as muitas e tão diversificadas opções para o 27 de
Janeiro de 2016.
1- Para os que estão atentos à História do quanto
é capaz este arrumo de ossos que nós somos, lembraria o 71º aniversário da luta
ingente que pôs fim ao mais bárbaro genocídio do género humano que dá pelo nome de
Auschwitz, perpetrado por um monstro em traje de gente, cujo nome recuso para
não manchar esta página. Surpreendo-me
com a indiferença dos nossos jornais, dos homens que aí escrevem. Não apenas
uma vez ao ano, mas todos os dias, deveríamos
olhar de frente para que os homens não esqueçam. E o mais horroroso é que, sob
outros camuflados, andam por aí os facínoras de Auschwitz.
2
- Para quem se ocupa e preocupa com a asfixia que os decisores europeus “oferecem” a Portugal, rebobinaria aqui o
passo cadenciado e grave, como cangalheiros que ajudaram a matar o defunto,
entrando na Assembleia da República com o vergonhoso brasão ao peito, onde
figura a pitonisa Troika que vem de palmatória em riste embolachar as mãos de quem fez o plano do próximo
Orçamento de Estado. Não menos abjecta, patrioticamente falando, é uma outra
brigada do reumático (a mesma que pôs o país a pão e água) vir agora
restabelecer a farsa de um país “de tanga”, como essa rapariga brancaça, substituta
de Paulo Portas (aquele que lhe pôs nos
braços quatro ministérios, do mar à serra) e que sai à rua, com uma graçola de
rapazinho imberbe, dizer na cara da Troika que “o OE/16 é candidato ao Óscar de
Hollywood”. Ficarão os portugueses indiferentes aos mercados que emprestaram
dinheiro para, agora, nos oferecerem um garrote ao pescoço de pais, filhos e netos? “Bolsa ou vida”! E já!
3
- Para os aficionados da bola, perguntaria qual a sua opinião sobre o
arquivamento, por parte da Comissão de Instrução e Inquérito da Liga, do processo de difamação contra os árbitros,
em que foi protagonista o presidente do Sporting. E daí, exigir à Justiça que
investigue e não deixe a culpa solteira para sempre. E que não leve um ano e
mais, noutro conhecido processo, a formular comprovada acusação. Ai, quem julga
a Justiça?! E que dizer da mesa redonda da TVI24,
agora à noite, em que a imagem dos quatro comentadores desportivos foi escandalosamente
abafada pela encenação gesticulada do dito presidente, numa reportagem de
Outubro do ano transacto, exibindo repetidamente papéis baralhados ao repórter de
então? O espectador não é propriamente um parvo.
4
- Aos que lhes toca mais dentro o problema das religiões, que belíssimo o frontispício desta peça, o encontro entre o presidente Rouhani, do
Irão, com o Papa Francisco, prestimoso augúrio de outros compromissos europeus
para a paz entre o Oriente e o Ocidente! Do lado oposto, a mancha negra, tão
difundida na comunicação social, do
filme Spotlight, de Tom McCarthy, sobre os escândalos
sexuais do clero católico de Boston, que tanto abalaram a América e o mundo.
Ainda por cima, proposto para os Óscares
da Academia. Na mesma linha, a humilhante posição em que ficou a Diocese do
Funchal que, após sucessivos e dispendiosos processos judiciais pelo competente
testamenteiro, foi obrigada na barra do tribunal a mostrar os documentos relativos à “herança
de D. Eugénia Bettencourt”, os quais passou tantos anos a ocultar. Já é voz
corrente que o detentor do poder religioso regional outra coisa não faz senão
esconder, encobrir e refugiar-se na sotaina cintada.
5 - Incontornável,
impossível passar adiante sem evocar e reler Vergílio Ferreira, o talentoso
romancista, ensaísta e filósofo português, cujo centenário o país está a
comemorar. Que sabemos nós do Autor da
Manhã Submersa, traduzida para a tela cinematográfica pelo realizador Lauro
António? Ao constatar a irresistível superficialidade dos dias fugazes que nos
absorvem, fica-me até ao fim esta mágoa: quanta gente escreveu para mim e para
cada um de nós mensagens tão afectivas e eloquentes e nós nem abrimos o
computador, nem sequer o telemóvel. …………………………………………………………………………………………………………..............
Que mão cheia de lembranças para este 27 de
Janeiro! E muitas outras deixei ficar para trás. Quanto me apeteceria e
ajudaria saber a qual delas foi mais sensível quem me lê. Por onde se vê o
drama interior que persegue aqueles que se predispõem a transmitir algo que
interesse e não apenas gastar as molas
do teclado. E desculpem-me este extenso linguado, quando pretendia fosse mais
sintético que os anteriores. Como no velho exemplo do estilo epistolar. “não tive tempo de fazê-lo mais curto”.
27.Jan.16
Martins
Júnior
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