OS
MAGOS, REIS E PRESIDENTES, PASSAM À NOSSA PORTA. TODAS OS DIAS, TODAS AS NOITES
A cada estrela a sua luz…A cada ano a sua graça!
Foi assim a saudação do nosso
presépio de 2015/16. Porque em cada ano que passa há sempre um toque de graça
que ilumina o ano anterior. Queria assim fosse também o episódio que hoje vos
trago --- o Dia de Reis --- que puxa
pela tradição e se publica nas gargantas dos romeiros “reais” em volta da nossa
ilha proclamando, toda a noite de casa em casa, a apoteose da quadra natalícia.
No
ano transacto e no mesmo dia 5 de janeiro, propus que se visse na aparição dos
Magos do Oriente o prenúncio da Grande
Assembleia das Nações Unidas em torno
dos valores mais altos da condição humana. Afinal, olhando para o rasto deixado
desde há 365 dias, nem reis nem príncipes, nem suseranos nem vassalos fizeram
mais que estilhaçar os acessos à magna reunião dos povos.
No
entanto, a estrela iluminante leva-me a sonhar teimosamente com esse longínquo areópago das nações para
onde caminham os novos magos do Norte e do Sul, do Oriente e do Ocidente. Quero
iludir-me nesse “engano de alma, ledo e cego, que a Fortuna não deixa durar
muito”, como sonhava a “linda Inês” nas estrofes d’Os Lusíadas (III, 120). Eles aí passam na minha rua, nas paredes
do meu quarto. Uns caminham de peito aberto sem embuste, outros de punho
fechado armadilhado, outros nem conseguem dissimular as kalashnikov que trazem sob os camuflados de guerra. Eu vejo-os, a
olho nu, e distingo-lhes as feições: na vanguarda os que estendem as mãos
livres para o sol; a meio os calculistas, que as barras de ouro aos ombros
entorpecem a caminhada e, por fim, os da rectaguarda, sanguinários sem preço, prontos a espetar a bala traiçoeira nas costas
dos que os precedem.
Apesar
de tudo, espero, contra toda a esperança, vê-los chegar, (mesmo os calculistas
e sanguinários) exaustos, acéfalos, de rastos, quebrar as armas diante da
evidência da grande morada da Vida, onde brilham livremente as bandeiras da
Igualdade e da Fraternidade. Não há
outro castelo a conquistar, não há Evereste
a transpor senão aquele que vem de longe, de Belém, e assentou
arraiais no centro do Planeta.
Espero.
Mas vejo que não chega esperar. Chega-me, sim, cá dentro a voz profética e o legado quente de
madre-mãe Sophia:
Vem, vamos embora,
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Imperativo,
decisivo é saber. Saber que o programa das Nações Unidas começa à nossa beira.
Saber que a rendição dos ditadores passa pela nossa porta: na pedagogia familiar contra a violência doméstica;
na autarquia que não devemos deixá-la à solta nas mãos dos titulares; na denúncia dos usurários da banca
que nos comem nas entrelinhas das imperceptíveis letrinhas; na escola e no
hospital onde queremos uma saúde global --- física e cultural --- para todos. Enfim, na urna do voto que é a
arma silenciosa capaz de anular as metralhadoras dos fortes. Acobardar-se no
silêncio ou nas migalhas do interesse exclusivista é retardar a marcha dos “magos”
de hoje, é atrofiar o crescimento da História.
Dia de Reis --- o mito de
outrora poderia transformar-se na epopeia de agora. Se não deixarmos que os
capilares do mal e da extorsão cresçam
dentro deste corpo que habitamos… Se
cada um de nós quiser, os “magos” do presente não terão outra vereda senão a que
leva a Belém.
Quem sabe faz a hora!
05.Jan.16
Martins Júnior
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