Feliz
Ano Novo, Happy New Year, Ein Gutes Neues
Jahr, ¡Feliz Año Nuevo! Bonne Année… Está a rebentar pelas costuras a
camada de ozono com o estrondoso eco de
saudações e Votos fugazes para o bissexto que aí vem. É também o que vos trago hoje
neste apontamento, que quero breve, pois
esta não é a estação mais dada a leituras. Parecerá estranha a formulação escolhida:
em vez de Feliz Ano Novo, limito-me às três perguntas em epígrafe, que servirão
de legenda à gravura.
Explico.
Ao abrir uma das recentes edições do El
País, deparo-me com a respectiva revista semanal, cuja capa é quase toda
preenchida com a dita gravura. E parei o olhar, demorei-me e gostei. Trata-se da obra do falecido Chris
Burden, Urban Light, à entrada do LACMA, o museu de arte
contemporânea de Los Angeles. E reagi de imediato: é este o meu postal de Ano
Novo, a radiografia antecipada que cada um faz de 2016. E são aos montões os
adivinhos, quiromantes, analistas, profetas e bruxos que debitam os mais
díspares avatares para este ano bissexto. O certo é que todos --- nós próprios,
inclusive --- se reconduzem à imagem proposta. Porquê?...
Fixemos
a atenção na imagem. Três gestos humanos impõem-se à monumental colunata luminosa da entrada do
museu: uma jovem negra que telefona, uma criança que corre alheia a tudo o
resto e um par de namorados que se beija à luz dos majestosos capitéis que
encimam as colunas, estas as “personagens” mais próximas e mais distantes de tudo o que ali se passa. Para
onde voa o pensamento de quem telefona? Só ela o sabe. Para onde o leva a
velocidade com que o miúdo atravessa os degraus da escadaria? Ele não o diz a ninguém.
E os namorados, quentes da volúpia daquele beijo, só eles sabem por que tudo o
mais lhes passa ao largo. No entanto, fixado o nosso olhar crítico, chegamos a
esta conclusão: num ponto comum todos coincidem, isto é, todos vêem o mundo à
luz das suas pupilas e todos se concentram num objectivo que é seu, todo seu e
de mais ninguém.
Eis
a análise que faço das previsões acerca de 2016. Todas iguais e todas
diferentes. Os economistas percorrem os labirintos do dinheiro bolseiro e
banqueiro; os industriais fazem contas aos hangars
e às altas antenas de torrefacção de metais e curtumes enquanto os
ecologistas bradam aos mortíferos “moinhos de vento” que destruem a atmosfera; os políticos desatam a
esquadrinhar os acessos mais directos ao poder. Enfim, poucos abrem a objectiva
mais ampla, a visão holística sobre os horizontes unificadores do interesse
comum, a realização global do planeta e
do seu possidente supremo: a Pessoa. Envolvidos
que estamos no “nosso caso”, no interesse
privado, parcelar e, tantas vezes, egoísta e a qualquer preço, todos passamos
ao largo da beleza ecológica em que estamos implantados desde que nascemos.
Quer dizer (recorrendo à imagem proposta) todos nós ficamos fechados e cegos à
fulgurante colunata que nos envolve por inteiro neste magnífico museu da História
Natural, que está na frescura saudável da liberdade de viver uma felicidade
global.
Para quem corres, para quem telefonas,
a quem beijas? --- as três incógnitas e as três pistas para o sucesso unitário
desta “casa comum”. A minha mobilidade, o meu telemóvel, a minha capacidade de
amar --- vou igualizá-las à ganância dos especuladores, à sôfrega desumanização
dos agiotas das terras e dos rios, aos talhantes de carne humana?...
E já que andamos na romaria dos “Reis”
que ofereceram tesouros ao Menino, faz bem recordar o que o doce Menino apregoou
mais tarde, quando líder e formador de mentalidades: “Onde estiver o teu
tesouro, aí estará também o teu coração”.
03.Jan.16
Martins Júnior
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